Escalada em solo do Dedo de Deus, Dedo Nossa Senhora e Escalavrado em 13 horas

Escalada em solo do Dedo de Deus, Dedo Nossa Senhora e Escalavrado em 13 horas

2 de agosto de 2014 7 Por Natan

A ideia de escalar o Dedo de Deus, Dedo de Nossa Senhora e o Escalavrado surgiu na última viagem que fiz para Teresópolis, sempre gostei muito de fazer travessias, passar por várias montanhas principalmente se for de ataque.

Fazer essas três montanhas em um dia apenas e sozinho, precisaria de um bom preparo físico, logística, sorte para que o tempo estivesse perfeito e um bom psicológico.

Vim amadurecendo a ideia por 2 meses, analisando cada montanha, logística de equipamento, alimentação e hidratação, pois cada montanha seria uma estratégia diferente.

O mais difícil na verdade nesse período foi convencer a minha esposa, pois ela não gostou nada da ideia de escalar sozinho, a cada dia ela me perguntava se eu tinha certeza do que estava fazendo.

Para amenizar um pouco a tensão da família acharam melhor meu pai me acompanhar até Teresópolis, pois eu teria 2000 km para rodar de carro sozinho, a volta para Curitiba poderia ser um pouco perigosa devido ao meu cansaço caso tudo desse certo na montanha. Já que estava indo para o Rio, a minha irmã Sabrina também aproveitou para pegar uma carona e conhecer a cidade maravilhosa. A Piazada no NNM também estavam de prontidão caso eu precisasse de ajuda.

Estratégia pronta, mochila arrumada, previsão do tempo perfeita, esse era o final de semana que eu estava esperando.

Sexta feira, 01 de agosto 7:30 da manhã pego a estrada sentido Teresópolis no Rio de Janeiro, 1000 km de estrada pela frente.

Chegamos no hostel onde iriamos ficar já de noite, uma janta rápida e uma passada na padaria para comprar as últimas coisas que eu precisava.

Para dormir foi foda, eu precisando descansar e não consegui dormir de jeito nenhum, cada vez que eu pensava como seria no dia seguinte o coração disparava e eu ficava naquela tensão, devo ter ido dormir mesmo já de madrugada.

As 4:20 da manhã escuto meu pai me chamar, salto da cama, tomo um café rápido, pego as duas mochilas que estavam prontas e seguimos de carro até a Santinha um pouco abaixo do Paraíso das Plantas.

As 5 horas da manhã me despeço do meu pai que retornou para o hostel, a noite está bem fria, o vento gelado não era o suficiente para passar o calorão que eu estava sentindo mesmo estando de bermuda.

Logo que entrei na trilha já fui procurar um lugar para esconder uma das mochilas que ficaria com as coisas que eu não precisava para a escalada do Dedo de Deus.

Assim que comecei realmente a caminhada minha tensão passou, eu sabia que precisava estar atento e totalmente concentrado em tudo que eu estava fazendo. Tinha que ser rápido mas também não podia forçar muito pois eu tinha calculado que tudo levaria umas 14 horas.

Na subida até os primeiros cabos de aço passei por dois grupos de quatro pessoas, essa galera tinha saído bem mais cedo do que eu. No final desse trecho já não precisava mais o uso da lanterna, um nascer do sol tesão, ali foi o primeiro lugar que enviei minha localização por mensagem para a Michelle e para a Piazada do NNM. O combinado era eu sempre estar avisando onde estava, caso desse algum problema eles saberiam aonde me procurar com mais exatidão.

Chegando na base da via toquei direto para a segunda enfiada, pois a primeira é bem tranquila de fazer mesmo não usando sapatilha, o lugar que eu estava mais preocupado era a próxima cordada.

A segunda enfiada que vai até a caverninha pra mim era o problema, pois eu teria que improvisar as proteções com algumas fitas longas e também tinha levado quatro peças móveis, tudo isso fazendo minha auto segurança.

É a primeira vez que escalo em solo, não tinha como não ficar tenso, cada movimento que eu fazia tomava todo o cuidado, a parte técnica dessa escalada não é difícil, mas eu não queria cometer nenhum erro e nem queria tomar uma vaca. Com tranquilidade e calma passei o trecho mais técnico do Dedo de Deus, fixei a corda em uma árvore, rapelei até a base para soltar a corda e novamente subi até a caverninha.

Desse ponto eu tinha duas opções de subida, ou pela Maria Cebola que descartei já de início quando eu tinha resolvido escalar sozinho e a opção escolida foi pela chaminé da Blackout.

Escaladas em chaminés e fendas é uma coisa que gosto muito de fazer, tenho uma facilidade para me entalar em buracos, o grande problema era carregar a mochila que estava pesada, a cada momento eu tinha que desescalar para arrumar a mochila que tinha entalado ou enroscado em alguma coisa.

Chegando na base do último lance que é o Passo do Gigante, amarrei a corda na minha cadeirinha e a outra ponta deixei presa na mochila, escalei até a escada que da acesso ao cume sem nenhuma problema, de lá recolhi toda a corda juntamente com a mochila presa a outra ponta.

Cheguei ao cume do Dedo de Deus as 8:45 da manhã muito contente com a escalada que tinha acabado de fazer, algumas fotos, filmagem e um pouco de água. No cume tinha um grupo que avia dormido no cume e já estavam fazendo o rapel, Maicon Rocha fez a gentileza de tirar algumas fotos pra mim.

As 9 horas em ponto iniciei a descida, caminhei até a primeira parada para montar o rapel, assim que fiz a primeira descida encontrei o grupo do Maicon Rocha. Pedi a gentileza de poder usar a corda deles que já estavam prontas no próximos dois rapeis, assim que souberam que eu ainda faria mais duas montanhas pediram aos colegas para que eu pudesse passar na frente e seguisse a minha descida, economizei um bom tempo com a gentileza dessa galera de Teresópolis.

Desci foi em um ritmo forte mais bem prudente para não acabar se machucando, pois a descida é bem íngreme com vários trechos de cabos de aço e cordas fixas, sem contar mais 3 rapeis que eu teria que fazer para passar os cabos de aço do inicio da escalada.

Cheguei na mochila que estava escondida na mata 1:30 depois que sai do cume, fiz um lanche rápido, peguei os equipamentos que usaria no Dedo de Nossa Senhora e deixei os que não usaria na segunda mochila.

Com tudo pronto, barriga cheia e bem hidratado desci a estrada até encontrar a entrada da próxima montanha. Mesmo procedimento, escondi uma das mochilas na mata e comecei a subida para o cume do Dedo de Nossa Senhora as 11 horas da manhã.

Cheguei na base da escalada já começando a sentir bastante o calor e o cansaço, os primeiros lances foram tranquilos até chegar no paliteiro que precisaria passar em A0.

Tecnicamente não foi difícil, o que começou a pegar foi o desgaste e o sol que agora estava pegando pesado. Na subida passei por um casal que já estava descendo e segui até o cume.

Na chegada as minhas pernas começaram a dar os primeiros sinais de dores musculares, tirei algumas fotos, avisei a Michelle e o pessoal do NNM e comecei a descida.

Recuperei a mochila e cheguei na estrada as 14:15 da tarde, desci pela rodovia até a entrada do Escalavrado e lá fiquei um tempo descansando enquanto arrumava a mochila com as coisas que eu precisaria para a subida da última montanha.

Inicie a subida do Escalavrado com a esperança de retornar ainda de dia para a estrada, mas após 20 minutos de subida comecei a sentir fortes dores na coxa fazendo o meu ritmo de caminhada diminuir bastante.

Quando cheguei na base da escalada e vi que tinha uma distância grande entre um grampo e outro, achei melhor solar a parede do que fazer a minha própria auto segurança, novamente a escalada não era difícil, mais somando o cansaço que eu estava acabei passando veneno no final do lance técnico.

Segui até o cume cuidando do relógio que parecia voar, a caminhada não estava rendendo muito, a cada instante eu precisava sentar para massagear as pernas e aliviar um pouco as dores.

Cheguei no cume já mancando, mas muito contente de ter atingido meu penúltimo objetivo. Lá tinha dois caras que iriam dormir no cume, acho que eu deveria estar com uma cara de muito acabado, pois um deles assim que soube o que eu tinha feito foi até a barraca e buscou um pacote de castanhas e frutas secas e me ofereceu várias vezes.

O sol já se escondia por trás da Serra dos Órgãos, a temperatura caiu rapidamente me obrigando a me agasalhar, já eram 17 horas e eu ainda precisava concluir meu último objetivo que era descer em segurança até a estrada.

A descida foi um pouco tensa, o retorno da Escalavrado tem muitas rampas íngremes forçando muito a coxa da perna, em alguns lugares que em outro momento eu desceria caminhando tive que montar o rapel para descer pois não estava mais confiando 100% na musculatura da perna.

Anoiteceu e eu tive que dobrar a atenção no que fazia e onde pisava, não via a hora de chegar na estrada e acabar com aquela tensão.

As 18 horas em ponto coloco meus pés na estrada, totalizando 13 horas de caminhada e escalada em três montanhas clássicas de Teresópolis.

Levei mais uns 40 minutos para caminhar até o Paraíso das Plantas onde o meu pai Jorge e a minha irmã Sabrina me esperavam.

Essa é uma daquelas coisas que a gente faz uma vez na vida, com certeza vai ser uma das histórias que pretendo contar para os meus netos quando estiver bem velhinho.

Escalada tesão, um dia perfeito em um lugar fantástico.

Na montanha estive sozinho, mas por trás desse dia alucinante teve várias pessoas importantes.

Michelle, minha esposa que apesar de não estar nada confortável em saber que o seu marido estaria escalando sozinho sempre me apoiou em tudo que faço, além de ser a minha preparadora física com um treinamento impecável para as minhas escaladas e caminhadas.

Aproveitando o gancho sobre treinamento, também não posso esquecer do Thiago Queiroz que também é um dos meus preparadores físicos e é claro do Anderson Gouveia que cuida do meu treino de escalada e com isso me permite cada vez escalar melhor e com mais segurança.

A minha família que além de me apoiar, participa das ideias retardadas que tenho, mãe, pai e irmã, valeu pelo apoio e companhia.

A todos os integrantes do Nas Nuvens Montanhismo muito obrigado, pois estavam na torcida e também em alerta caso eu precisasse de ajuda viajaram 1000 km para me socorrer, vila longa a família NNM !!!!

E também não posso deixar de agradecer as pessoas que encontrei pelo caminho me incentivando ou ajudando de alguma forma como o Maicon Rocha e seu grupo que me poupou algum tempo cedendo os rapeis já prontos na parede.

Agradeço também a Deus por ter me proporcionado tudo isso.

Vídeo

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Grutinha do Dedo de Deus

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Uma das chaminés

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Mais uma chaminé

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Cume do Dedo de Deus

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As próximas duas montanhas, Dedo de Nossa Senhora e Escalavrado

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Na estrada seguindo para a próxima montanha

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Primeira escalada do Dedo de Nossa Senhora

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Cume do Dedo de Nossa Senhora

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Cume do Escalavrado