Salinas – via CERJ

Salinas – via CERJ

4 de junho de 2015 1 Por Natan

Eram 9h da manhã quando eu e o Juliano estávamos separando o equipamento que iríamos precisar na parede. Viajamos 15 horas até chegar em Salinas, tiramos alguns cochilos enquanto revezávamos na boleia do carro na última madrugada.
Tanto eu quanto o Juliano estávamos bem cansados mas com um tesão enorme de entrar na parede o quanto antes, principalmente depois do nascer do sol revelando um céu azul e limpo.
Caminhamos até a base da via CERJ, uma das escaladas clássicas do Capacete no Parque dos Três Picos.
No início da escalaminhada em uma larga fenda, acabamos pegando a trilha para a direita que levava a lugar nenhum, depois de perceber o erro e retornando à base da fenda conseguimos subir pelo caminho correto que era a esquerda e logo chegamos a base da via.
A CERJ – D3 5° V (A0/VI+) E2 400 m – tem 10 enfiadas e a gente tinha que acelerar a escalada pois já eram 11 horas da manhã e estava meio tarde pra fazer uma parede daquele tamanho.
A escalada foi alucinante, uma enfiada mais bonita que a outra, fala no croqui que é opcional peças móveis, mas se vc está indo pra lá, acho melhor levar uns camalots do .75 ao 3, tenho certeza que não vai se arrepender.
Na oitava enfiada o cansaço pegou, afinal de contas, só havíamos cochilado na noite anterior e a escalada era longa.

Quando eu entrei na décima enfiada o sol já estava por de trás do horizonte e eu deveria ter uns 15 minutos de luz ainda. Essa última parte era uma graduação baixa, mas logo na saída não consegui identificar a linha da via e nenhum grampo. A claridade diminuía a cada minuto que passava, escalei uns 10 metros e nada de grampo, avisei o Juliano “Pereira, vou tocar o pau pra cima protegendo aonde der com os móveis, fica esperto ai”.

Não sei o quanto escalei e nem se estava muito fora da linha original, comecei a procurar um lugar onde eu pudesse tirar a mochila e sacar a lanterna, e foi nessa hora no último minuto de luz que encontrei a parada dupla que estava procurando. Aí foi só alegria, dei segue pro Juliano e caminhamos até o cume do Capacete finalizando uma das vias mais clássicas de Salinas.
O rapel foi feito já a noite, com um vento muito forte e um frio de trincar os ossos. Enquanto descíamos, avistamos duas lanternas de um lado pro outro no Pico Maior, pelo jeito a dupla de escaladores estavam meio perdidos na Cidade dos Ventos, uma linha de rapel complicada pra quem não conhece.
Quando iniciei o último rapel e olhei para trás para saber por onde eu tinha que descer, percebi que o ambiente tinha ficado um pouco mais claro, olhei pro horizonte e a lua cheia estava nascendo por detrás das montanhas.
São nesses momentos que a única coisa a se fazer é parar e contemplar toda a beleza que Deus criou. Lá embaixo e bem distante, apenas algumas luzes da cidade, uns 50 metros acima de mim eu via a lanterna do Juliano e por trás dele a noite toda iluminada pelas estrelas, e à minha esquerda o Pico Maior todo iluminado pela luz da lua e duas lanternas dos escaladores que também desciam. Nessa hora foi automático sair quase que involuntário “que tesão Pia, é bom pra caralho poder participar disso daqui”. Chegamos ao camping do Mascarin eram umas 21h sem incidentes.
O dia seguinte foi de descanso e preparação para subir o Pico Maior.

Tínhamos combinado de sair as 4h da manhã para escalar, mas enquanto tomávamos café começou a chover e não parou até as 8h da manhã quando decidimos arrumar nossas coisas e retornar pra Curitiba.
Foi apenas uma via em Salinas, mas foi um tesão de escalada com a parceria do meu grande amigo Juliano.

Mar de nuvens pela manhã

Mar de nuvens pela manhã

Os três Picos, dia perfeito para escalar.

Os três Picos, dia perfeito para escalar.

Inicio da via CERJ

Inicio da via CERJ

Eu na primeira enfiada da escalada

Eu na primeira enfiada da escalada

Eu em alguma parada

Eu em alguma parada

Juliano se preparando para guiar

Juliano se preparando para guiar

Os dois retardados

Os dois retardados

P10, já era noite quando acabamos a via.

P10, já era noite quando acabamos a via.