Via Décadence Avec Élégance – Salinas – RJ
Via Decadence Avec Elegance, 5° VIIa (A0/VIIc) E2 D4 – 700 metros, uma das vias mais cobiçadas pelos escaladores no Parque Estadual dos Três Picos, mais conhecido como Salinas, considerada a Meca da escalada tradicional no Brasil. Carro carregado, equipo separado, foi pra lá que parti com meu companheiro de escalada Juliano Pereira.
Cheguei com o Juliano em Salinas já era quase uma da madrugada. A noite limpa e fria confirmava que o tempo estaria bom para os próximos dias.
No sábado, nosso primeiro dia em Salinas, tirei para descansar e deixar tudo pronto para a escalada do dia seguinte. Próximo a hora do almoço, nossos amigos de Curitiba chegaram no Mascarin depois de passar a noite toda na estrada.
Para agilizar nossa escalada, eu e o Juliano resolvemos achar a base da via que iríamos escalar para não perder tempo no dia seguinte. Caminhamos em torno de 45 minutos na mesma trilha que leva até a via Leste no Pico Maior, faltando uns 5 minutos para chegar na base da Leste tem uma trilha a direita que leva para a via Décadence (uns 15 minutos aproximadamente de trilha depois que sai da principal), a caminhada é toda em curva de nível até encostar na parede, assim que chega na base da parede dá para ver as primeiras proteções da via Mateus Arnaud, seguindo alguns metros à direita, já consegue identificar as primeiras proteções da via Décadence.
No retorno para o camping já fomos planejando nossa logística de material, horário para sair e o que levar para comer.
Domingo, 4 horas da manhã, não só eu e o Juliano estávamos de pé como toda a galera de Curitiba também se aprontava para sair. O Pico Maior teria 7 Paranaenses escalando em 3 vias diferentes. A via Leste teria o trio de escaladores Fabio, Robson e o Embraim, um pouco a direita na via Mateus Arnaud o casal Pedro Hauk e Maria Tereza, e um pouco mais a direita na via Décadence, eu e meu velho parceiro Juliano.
Pontualmente às 6 horas da manhã, eu estava puxando a primeira enfiada da via Décadence, logo que o Juliano se juntou à mim e começou a guiar a segunda enfiada, vimos os outros 5 Curitibanos na base das suas vias escalando os primeiros metros.
Eu e o Juliano fomos revezando as guiadas sem mais problemas, o tempo todo com o croqui na mão para não termos surpresas, uma ou outra enfiada que o croqui errava na contagem das proteções para mais ou para menos, mas nada alarmante.
Na 7° enfiada, dei uma errada que quase me colocou em uma situação complicada. Saindo da P6 para P7 o croqui indicava para seguir na diagonal a direita que teria um piton na parede como proteção, procurei, mas não achei o dito do piton! Acabei tocando reto na parede e depois tendo que fazer uma transversal para a direita em direção ao grampo que eu enxergava, alguns metros antes de chegar nessa proteção, a parede ficou meio lisa, quase sem pé. Enquanto eu estava ali na merda tentando achar uma saída para aquela “sinuca de bico” o Juliano gritou pra mim: “-Natan, achei o piton que vc estava procurando, está alguns metros abaixo de vc”. Caralho! Entre eu e o Juliano não tinha nenhuma proteção e eu já estava a uns 15 metros dele no mínimo!!! Depois de analisar cada movimento para chegar até aquele bendito grampo, fui com todo o cuidado, quase que sem respirar, quando costurei no grampo até escutei o suspiro do Juliano lá em baixo que, com um tom aliviado disse: “-Boa Criolo!” rsrs
A nossa escalada fluía bem, nas outras duas vias onde se encontrava nossos amigos parecia que também estava indo conforme o planejado. De vez em quando eu escutava o trio que estava na Leste gritar alguma coisa, mas pela distância não conseguia entender o que tanto gritavam, mas para um trio que todos eram “debutantes” na parede, estavam indo muito bem.
Na P9 enquanto eu dava segue para o Juliano que guiava uma enfiada delicada, dava para ver todo mundo na parede, nesse ponto da via, as 3 cordadas Curitibanas estavam bem próximas uma da outra, dava até para conversar com todo mundo neste ponto.
A 11° enfiada, a do crux, é na verdade a enfiada mais bonita da via. Uma diagonal para esquerda em aderência bem divertida até a aresta, essa com uma esticada bem delicada.
Eu estava preocupado com o lance de 7b… Foi difícil, mas sem muito problema para passar. Muito bem protegido! Pessoas mais altas talvez até consigam fazê-lo em artificial… não foi o meu caso, minha altura me obrigou a mandar o movimento…
Passando o lance de 7b pensei que a coisa iriam aliviar… hahahaha, grande engano! Após o crux, me deparei com um movimento muito delicado que, para mim, foi pior que o próprio crux! Se você tiver mais de 1,80cm é provável que passe sem problemas mas, se você tiver a estatura mediana, como eu, se prepare para ter que dar um dinâmico em uma agarra que você não tem certeza se é boa ou não!
Depois de ter passado a enfiada do crux, eu e o Juliano nos animamos mais ainda e tocamos para cima o mais rápido possível para terminar aquela escalada, já estávamos ficando cansados e o cume era nosso próximo objetivo.
Na 15° enfiada acabamos ficando meio decepcionados, o croqui vinha fiel à realidade até aquele momento. Neste ponto era para ter um artificial à nossa frente. Como era a minha vez de guiar, subi um pouco e tentei identificar alguma coisa que batesse com as informações do croqui, mas infelizmente não achei nada. A via Mateus Arnaud cruzava com a nossa, a Leste estava a poucos metros da gente, escalei para vários lados tentando achar a linha da nossa via e realmente não achei nada!
Conversando com o Juliano achamos melhor entrar na Leste e tocar para o cume, já era final do dia e em pouco tempo o sol estaria se pondo. Para agilizar a enfiada do trio que estava na Leste me propus a puxar todas as guiadas a partir da 2° chaminé da Leste, fazia uns 15 dias que eu tinha entrado nessa via e a escalada ainda estava fresca na minha cabeça.
Éramos 5 para finalizar a via, mesmo eu puxando na frente e acelerando o processo acabamos chegando já no início da noite no cume do Pico Maior. A alegria do trio por ter escalado a sua primeira parede era contagiante!
Decadence Avec Elegance, tesão de via, bem divertida com lances puxados em alguns momentos, valeu a pena viajar tantos quilômetros para escalar essa via em um dia muito divertido.
A descida do cume do Pico Maior, essa é uma outra historia a parte …
Grande relato.
Também tive dificuldades, e aparentemente nos mesmos pontos que vcs relataram.Vamos conversar outro dia sobre essa descida. Quero saber o que houve, e conto como foi a minha kkkk