Via Transbaú
Via Transbaú, uma escalada que tem um pouco de cada coisa, aderencia, reglete, orientação na parede, proteções fixas e móveis, exposta e protegida quando necessário, oito enfiadas bem divertidas até chegar no cume do Baú.
A caminhada até a base da via é bem tranquila, seguindo pela trilha principal que dá acesso ao Baú saindo do restaurante, deve levar uns 30 minutos no máximo. Assim que chegar na base da primeira escadaria é só pegar uma trilha a esquerda, uns 100 metros à frente começa a via Transbaú – 5°sup VIIa E3 D3 280m.
Devia ser umas 10 da manhã quando cheguei com a Michelle na base da via e já tinha uma dupla na nossa frente se equipando para escalar. Enquanto esperava nossa vez, também chegou um trio que entraria na mesma via, sábado com um dia lindo como aquele, as vias legais sempre são as mais procuradas.
Iniciei a escalada até a P1, a Michelle que veio de segundo teve um dos participantes do trio escalando logo no seu rastro, tanto que não deu 3 minutos de intervalo do momento que a Michelle chegou até chegar o primeiro escalador do trio.
A Michelle logo pegou as peças moveis e saiu guiando a segunda enfiada, eu ali na parada fazendo a sua segurança, puxei conversa com o escalador que estava ao meu lado.
Ele não sabia se conversava comigo, montava sua parada ou gritava com os parceiros dele que ainda estavam na base da via. Percebi que ele estava bem atrapalhado, não sabia direito o que fazia primeiro, a cada instante falava com os companheiros aos berros, achei melhor não falar mais nada e deixar ele se concentrar no que estava fazendo.
Enquanto isso, a Michelle escalava a segunda enfiada sem problema algum.
Fiquei meio preocupado quando o escalador ao meu lado me pediu para usar a nossa equalização.
Antes que eu falasse alguma coisa ele já se desculpou “Poxa amigo, esqueci as peças lá em baixo, será que posso usar a sua e depois te devolvo na próxima parada?”
“Sem problema, na próxima parada vc me devolve!”, respondi para ele acenando com a cabeça. Logo ele olhou pra baixo e gritou “TÁ TRANQUILO, CONSEGUI UMA PEÇA EMPRESTADA, PODE SUBIR”.
Com a Michelle pronta para me dar segurança me despedi do camarada e segui a linha da via.
Fui revezando com a Michelle até a P4, onde achei melhor esperar o trio que subia para eu poder recuperar a peça móvel emprestada.
Pela demora que eles estavam, achei melhor guiar a enfiada do crux e deixar a Michelle esperando o trio para devolver a peça. Subi sem pressa, enfiada divertida com um 7a meio ardido com vários lances em móvel, uma das enfiadas mais divertidas da via. Chegando na parada ainda tivemos que esperar um pouco até eles chegarem na Michelle que aguardava na P4.
Vi que a Michelle conversou alguma coisa com o primeiro escalador e subiu, enquanto a Michelle escalava dava pra escutar a discussão entre os três, eu não conseguia entender direito o que falavam, mas dava para notar que a conversa não era amigável.
Na primeira chapeleta depois do crux vi a Michelle abrindo um costura e deixando na parede, logo que ela voltou a escalar já perguntei, “Michelle, não vai recolher a costura da parede?”, ela balançando a cabeça respondeu “o rapaz lá em baixo pediu para eu deixar essa costura aberta para ele.”
Assim que a Michelle chegou na parada comentou comigo, “ Putz Natan, não sei não se não vai dar merda hoje, vc ouviu a gritaria lá em baixo?”, confirmei que sim com a cabeça e logo perguntei o que tinha acontecido, “ então, logo que o primeiro chegou na parada que eu estava, só ai foi perceber que o segue lá embaixo estava dando segurança na corda retinida, e não na corda que ele estava encordado”.
Só por Deus mesmo, não sei como não acontece mais desastres na montanha com tanta falta de experiência assim …
Mais três enfiadas e estaríamos com a via finalizada. Continuamos escalando até chegar no cume do Baú e torcendo para não precisar fazer nenhum resgate naquela altura do campeonato.
Mas graças da Deus o trio também conseguiu finalizar a via apesar de tudo, e a cara dos três figuras de alegria e alivio era impagável, provavelmente não tiveram a real noção dos vários riscos que passaram naquele dia.
Dia perfeito para escalar, via muito divertida e algumas histórias bizarras que presenciamos …