Finalizando o projeto “10.000 metros de parede”
Era pra ter finalizado o projeto no sábado, mas o tempo não colaborou, choveu o dia todo na cidade maravilhosa e estávamos bem desanimados com aquela situação, nossa última esperança era a previsão de domingo que segundo os meteorologistas seria de tempo bom e céu azul.
Tivemos de reavaliar todas as possibilidades de escaladas para o domingo, teríamos que escalar quase que 700 metros, não dava para arriscar de chegar no final de uma via e não poder concluir porque estava molhada na última enfiada.
Escolhemos duas vias na região de Itacoatiara em Niterói para finalizar o projeto. A primeira seria a via Chang Wei, 2° III E3 D2 – 425 metros. Não tinha vegetação na cabeceira, o vento a beira mar podia ajudar a secar a parede, e o sol do Rio de Janeiro faria o resto, é claro que tudo isso era uma teoria, principalmente porque eu ainda não conhecia essa via. A segunda escalada já era bem conhecida pela gente, Paredão Zezão 3° V E2 D2 – 305 metros na Agulha Guarischi, linda escalada com um dos cumes mais legais que já conheci. Finalizar o projeto nessa montanha, era finalizar com chave de ouro.
Logo cedo partir da capital rumo a Niterói, deixamos o carro na entrada do Parque Tiririca, fizemos nosso cadastro e começamos nossa caminhada até o setor Enseada do Bananal. A via Chang Wei começa quase que a beira mar, o crux da via é já na primeira enfiada, uma escalada completamente na horizontal com as ondas batendo logo abaixo. O inicio foi meio confuso, mas logo consegui identificar toda a linha da via, com muito cuidado escalei os primeiros 60 e logo em seguida dei segurança para Michelle. A segunda enfiada dei algumas erradas, não estava tão fácil a orientação na parede, mas aos poucos fui achando as proteções. Estávamos escalando rápido, até a P4 consegui achar todos grampos descriminados no croqui, mas a partir desse ponto parece que todas as proteções sumiram. Fui de um lado ao outro tentando achar qualquer coisa, mas nada. A segunda metade da via parecia bem fácil, tracei uma linha no que eu conseguia enxergar na parede e toquei, subimos simultaneamente por muitos metros, faltando uns 100 metros para chegar no cume achei novamente um grampo, dali até o cume foi um pulo. Já em cima do Morro Tucum onde acaba a via, comemos, hidratamos e já iniciamos a descida pela trilha em direção a Agulha Guarischi.
Em 30 minutos eu já estava fazendo o nó oito novamente na minha cadeirinha para guiar a primeira enfiada da nossa última escalada. Por já conhecer essa via, eu já tinha ideia aonde a parede poderia estar molhada. Os primeiros 60 metros até a P1 era o único lugar que podeira estar molhado devido a quantidade de mato em volta da linha da via. Um escorregão aqui e ali, mas consegui passar esse trecho.
O resto da escalada foi só alegria, o dia estava perfeito, o lugar era fantástico, e a medida que eu subia com a Michelle nossa euforia para finalizar nosso projeto só crescia.
Duas horas foi o tempo que levamos para escalar a Agulha Guarischi. No cume o sorriso de alegria estampado na cara dos dois era de felicidade, alivio, gratidão.
Levamos uma champanhe e duas taças para comemorar aquele momento, era só nós dois no cume aproveitando aquele momento único.
10.035 metros de parede, essa foi a soma total do nosso projeto. Esse projeto com certeza foi o mais divertido que já fiz, tantas historias, momentos incríveis, experiencias únicas, escaladas fantásticas que fizemos que poderia repetir tudo de novo.
Agradeço a Deus por ter me proporcionado tudo isso. Meus pais e amigos que de alguma forma me ajudaram ou me apoiaram. E agradeço a pessoa que estava ao meu lado o tempo todo, sorrindo, sofrendo, suando e passando medo ao meu lado, minha super esposa Michelle, mais uma vez obrigado por estar ao meu lado sempre!