Expedição Bolívia 2013
Sete meses. Este foi o tempo de preparação e planejamento da expedição para a Bolívia.
A viagem foi dividida em duas partes: a primeira na região do Condoriri e a segunda na região do Sajama.
Logo quando chegamos em La Paz, corremos atrás de tudo que precisávamos para passar uma semana no Condoriri.
A estratégia de aclimatação foi bem simples, passar os primeiros dois dias em La Paz a 3660 m e depois subir para região do Condoriri, começar pelas montanhas mais baixas, tudo isso se hidratando com pelo menos 4 litros de água por dia.
O acampamento base da região do Condoriri é um lugar muito agradável. A caminhada até o acampamento é tranquila e já serve também como aclimatação, vc pode dormir bem próximo a laguna Chiarkhota. O vale fica entre as montanhas proporcionando um visual alucinante, banheiro limpo e água próximo à barraca.
A primeira montanha que eu, Alisson e o Juliano subimos foi o Cerro Mirador, não foi uma caminhada difícil, mas por ser a primeira montanha que estávamos subindo acabou sendo cansativa.
No dia seguinte tínhamos programado de subir outra montanha para dar sequencia a nossa aclimatação, mas esse dia acabou sendo tenso e um pouco desanimador, pois nosso grande amigo e companheiro Juliano não estava nada bem e teve que tomar uma difícil decisão, voltar para La Paz.
O Juliano, como eu e o Alisson, planejou e treinou muito para esta expedição, resolver retornar para a cidade assim não e nada fácil, não são todos montanhistas que tem essa maturidade e companheirismo que o Juliano teve, digo companheirismo porque ele sabia que se ficasse e piorasse comprometeria a escalada dos companheiros, ao final ele percebeu que a decisão foi muita assertiva, pois no hospital em La Paz descobriu que estava com inicio de pneumonia e precisava voltar o mais rápido possível para Curitiba, mesmo assim, esperou nós voltarmos para o Hotel para retornar ao Brasil.
No Condoriri eu e o Alisson resolvemos fazer mais duas montanhas antes de retornar para a capital da Bolívia.
Dando sequência ao planejamento, a próxima montanha era o Pequeno Alpamayo . Começamos a caminha bem cedo, seguimos em um ritmo tranquilo e constante até a geleira, o tempo estava agradável apesar de a temperatura estar negativa.
Até o cume do Tarija tentamos manter um ritmo forte, como só estava eu e o Alisson na caminhada era mais fácil manter o mesmo passo. No cume do Tarija algumas fotos, água e já iniciamos a descida rumo à crista do Pequeno Alpamayo.
Para nós estava sendo uma grande experiência, estávamos somente os dois para compartilhar as decisões, guiadas e medos. Na crista fomos bem melhor do que imaginávamos, subida tranquila, sempre prestando atenção em tudo que estávamos fazendo para não cometermos nenhum erro e sempre preparado caso acontecesse alguma coisa.
Cume do Pequeno Alpamayo, os dois parecendo crianças, ficamos quase uma hora no cume, só resolvemos ir embora porque vimos algumas nuvens meio feias vindo em nossa direção. O retorno foi rápido mas cansativo, só paramos mesmo na base da geleira para tirar os grampons e retornar às barracas.
A próxima montanha, como dizia o Alisson, “a cerejinha do bolo” era a Cabeza de Condor (5.700 m). Nessa expedição eu ainda queria tirar algumas dúvidas técnicas, como falam que a Cabeza de Condor já é uma montanha mais exigente resolvemos contratar um guia, o mesmo que me deu o curso de Gelo em 2011, Eduardo Mamani.
Quando contratamos o serviço de guia com o Eduardo a conversa foi a seguinte, “Eduardo, o objetivo principal de estarmos te contratando não é chegar ao cume e sim nos ensinar os procedimentos corretos para uma escalada mais exigente em alta montanha, o cume é o objetivo secundário”.
Eduardo entendeu o que queríamos, tanto que revezávamos as cordadas e a cada instante Eduardo parava e nos explicava o que estava fazendo e o porque estava fazendo. A subida fluiu muito bem e logo que o sol nasceu já estávamos na base da canaleta, a parte mais exigente da subida.
Chegamos, felicidade não somente por ter alcançado o cume mas também, por ter aprendido muito nessa escalada.
A descida foi muito rápida, os meses de preparação física valeram a pena. No acampamento base arrumamos tudo e iniciamos nosso retorno para La Paz, assim deixando para trás a grande experiência que tivemos no Condoriri.
Em La Paz nos despedimos do Juliano que retornou ao Brasil, mas ganhamos a companhia do Leandro que estaria nos acompanhando na segunda parte da expedição.
Depois de um breve descanso nos preparamos para partir, a ideia original era tentar atacar o cume do Sajama, maior montanha da Bolívia, mas descobrimos que a previsão do tempo estava para virar e não teríamos tempo para fazer o cume, então resolvemos tentar alcançar o cume do Parinacota (6.330m), uma montanha mais rápida do que o Sajama.
Saímos cedo de La Paz, e às 15 horas eu, Alisson e Leandro estávamos montando barraca no acampamento base do Parinacota. O local é distante de tudo, um terro fofo ruim de andar parecendo uma areia bem fina, lugar muito seco e frio. Antes de escurecer já estávamos deitados para se esconder do mau tempo.
Às 2 horas da manhã o Alisson me acorda para fazermos o ataque ao cume, quando tento me levantar percebo que meu corpo está todo dolorido, minha garganta que há dias vinha me incomodando agora está completamente inchada, pego o termômetro e tenho a certeza que estou ardendo em febre. Uma forte gripe me pegou de jeito.
Alisson e Leandro saíram para caminhar, algumas horas depois retornam reclamando do mau tempo. Pela manhã acordo muito ruim, estava no meio do nada, nosso transporte só viria nos buscar no dia seguinte próximo a hora do almoço e eu não queria ficar ali fudido por mais um dia e meio. Resolvi andar até o vilarejo Sajama a 24 km do nosso acampamento.
Andar naquele chão fofo parecendo uma areia muito fina por 24 km estourando de febre não foi fácil, teve alguns momentos que achei que não conseguiria chegar até o vilarejo, o Alisson a cada instante queria saber como eu estava, percebi que ele estava preocupado, pois segundo ele, em quase 10 anos indo para montanha comigo nunca tinha me visto tão ruim assim.
Quando cheguei ao vilarejo do Sajama eu me larguei em um canto em quanto o Alisson cuidava de tudo, local para gente dormir até o dia seguinte quando o transporte nos levaria até La Paz, o 4×4 para buscar o Leandro e nossas coisas no acampamento do Parinacota. Depois que entrei no saco de dormir, só lembro-me do Alisson em tempo em tempo me oferecendo comida, água e verificando como estava minha febre.
Pra mim o tempo passou muito rápido de tanto que eu dormi, quando vi já estava chegando a La Paz, eu já estava bem melhor quando cheguei ao hotel. Eu só precisava me alimentar e descansar, pois logo estaríamos retornando para Curitiba e assim finalizando nossa expedição na Bolívia.
Alisson esteve comigo durante toda a expedição, figuraça, demos muitas risadas juntos, foi um grande parceiro e companheiro durante toda a estadia da Bolívia, não é atoa que estamos a 10 anos indo para montanha juntos. Juliano, sentimos a falta desse piá que ajudou a planejar a expedição, mas infelizmente não pode estar conosco nas montanhas, sei que é um grande companheiro, pois estive com ele no Aconcágua em 2011 e é outro figura que sempre tem que estar nas expedições do Nas Nuvens Montanhismo. Leandro, vulgo Bolívia, sabia que não teria tempo para se aclimatar e com isso comprometer a sua subida, mas mesmo assim resolveu ir até La Paz para estar junto com a piazada. Uma expedição genuína do Nas Nuvens Montanhismo, talvez não tenhamos alcançado todos os cumes que queríamos, mas com certeza aprendemos muito e principalmente nos divertimos muito.
Não posso esquecer de agradecer a Xness, meu preparador físico Guilherme Neves que durante meses se dedicou ao meio treinamento. Guilherme, muitas vezes depois do treino quando eu estava naquele estado acabado xingando até a tua próxima geração vejo que realmente valeu a pena todo sacrifício.