Via Expresso Lunar, a 4° maior via do Espírito Santo
Águia Branca é uma cidade que está à poucos quilômetros de Pancas, um lugar fantástico rodeado por grandes montanhas e paredes pra se escalar…
Eu e a Michelle estávamos a procura da via Expresso Lunar, que fica na Pedra da Onça. Até os dias de hoje é considerada a quarta maior via do estado do Espírito Santo.
Tivemos uma certa dificuldade para achar essa montanha que fica um pouco afastada do centro da cidade. Uma errada aqui, outra ali e conseguimos achar o sitio onde fica a casa do Sr. Nei Ângelo, base da Pedra da Onça. Não estávamos com pressa, tiramos o dia para achar a base dessa e outras vias que queríamos escalar. Na casa do Sr. Nei, conversamos com sua esposa que nos recepcionou muito bem, comentou que fazia muito tempo que não aparecia alguém para escalar aquelas montanhas.
No dia seguinte estávamos cedo estacionando na casa do Sr. Nei para tentar subir a via Expresso Lunar, 4° V E3 D2 740 metros, divididos em 13 enfiadas até o cume.
Em baixo da via, enquanto arrumava tudo, deu para ver que a escalada não seria de graça, somente em baixo da parede dá para ter a real noção do tamanho da brincadeira.
A orientação da via até a P5 foi tranquila, um ou outro lance um pouco mais delicado e esticado, mas sem surpresas para quem está acostumado a escalar aderência. A partir da P5 a via começa ter uma inclinação para esquerda e começa a ficar mais vertical. A orientação também fica um pouco mais difícil devido à uma vegetação rala que esconde os grampos. Por várias vezes acabei saindo um pouco da linha da via, ou sem querer, pulava um grampo ou outro.
Ancorado na P7 dando segue para Michelle deu para ver bem as nuvens carregadas mandando muita aguá para baixo, me deparando com aquele cenário eu disse: “- Michelle, acho que fudeu! Olha o tamanho da chuva vindo em nossa direção!”, minha esposa sempre Lady respondeu: “Foda-se, vamos tocar pra cima até onde der!”. Claro que nem tentei argumentar nada. Quando ela chegou na parada vimos a chuva passar muito perto, mas por sorte ela passou atrás da montanha onde estávamos e não molhou a linha da via.
Continuamos nossa progressão tentando escalar o mais rápido possível, aquela chuva não era a única… Tinha alguma nuvem carregada parecendo um chuveiro gigantesco para todos os lugares onde nossos olhos alcançavam.
Na P10 outro “chuveiro” gigantesco quase nos pegou novamente, só que dessa vez passou muito perto e sentimos um pouco daquela chuva em nossas cabeças. Mesmo com o sol escondido atrás das nuvens o dia estava muito quente, a pouca chuva que nos pegou não foi o suficiente para molhar a parede, parecia que a água em contato com a pedra acabava evaporando quase que instantaneamente, assim dando a chance de continuarmos nossa escalada.
Passando a parte mais vertical da parede, faltando 2 enfiadas para finalizar a escalada, outro “chuveirão” vinha em nossa direção, esse agora estava em rota de colisão com a parede onde estávamos. Essas últimas duas enfiadas eram mais positiva, possibilitando uma escalada bem mais rápida. Sai escalando o mais rápido que eu podia, era muita sacanagem perder uma via dessa faltando 120 metros para acabar.
Não podíamos reclamar, por várias vezes a chuva quase nos pegou, eu estava na P13, última parada da via e só faltava a Michelle escalar os últimos 20 metros para finalizarmos esse paredão quando começou a cair os primeiros pingos de chuva.
Algumas fotos e começamos a montar o rapel já a base de muita chuva, agora não tinha mais o que fazer, pelo menos conseguimos finalizar a via e só precisávamos cuidar com a descida. Tudo molhado, parede lisa, cansados, combinação perfeita para dar algum acidente.
Com todo o cuidado do mundo e prestando atenção em cada procedimento de segurança começamos nossa descida de 13 rapeis até chegar no chão. Eu e a Michelle usamos cordas gêmeas com diâmetro de 8.1 mm para escalar paredes, mas mesmo com uma corda fina como essa dava um trabalho enorme na hora de recolher a corda depois do rapel. Depois de rapelar da P7 para P6, uma parte meio que na diagonal, tive que usar prussik para conseguir recolher a corda de tão pesada que estava depois que molhou.
Apesar da situação, estávamos bem animados! Linda escalada, visual fantástico, até uma cachoeira ao nosso lado apareceu depois da chuva.
Faltando apenas dois rapeis, o céu escureceu de vez, agora não era aquele grande “chuveirão”, todo o horizonte estava cinza escuro, relâmpagos e trovões completavam o cenário.
“-Bora mulher, agora o negócio ficou sério”, comentei com a Michelle que já estava com o olho arregalado olhando aquela tempestade se aproximar.
Último rapel feito, a tempestade chegou, não sei se a corda realmente estava pesada ou meus braços não aguentavam mais, só deu tempo de colocar a corda dentro da mochila e sair daquele lugar, caminhávamos de cadeirinha e costuras penduradas para sair o mais rápido daquele lugar que em poucos minutos virou um rio.
Essa com certeza vai entrar para a lista de vias cinco estrelas, parede linda, mesmo forçando um pouco a barra e molhados da cabeça aos pés deu tudo certo no final, e foi um dia daqueles para ficar sempre na memoria!
No dia que fizemos essa escalada, a via Expresso Lunar era considerada ainda a 3° maior via do estado do Espírito Santo. Depois que divulguei esse relato, meu amigo Oswaldo Baldim avisou que a Expresso Lunar caiu para a 4° maior via, pois recentemente foi conquistado uma via com mais de 900 metros que ocupou o lugar.
Natan
A via Carlos Bernardo na Gaveta de Pancas ES tem 750m e do ano de 2000 e muito conhecida pelos maiores nomes de escalada capixaba não entendo como não e citada e segunda via de Pancas .
Olá Carlos,
As informações que coloquei nesse relato foram retiradas do guia de escalada do Oswaldo Baldin.
A correção veio logo em seguida por um escalador Capixaba que me avisou que ela caiu de 3° para 4° maior via. Detalhes sobre outras vias eu não tenho conhecimento Gustavo, pois é uma região bem distante da onde estou, mas estou a disposição para qualquer atualização nas informações.
Um forte abraço e boas escaladas.