1035 metros de escalada em um dia …
O dia precisava ser produtivo para render nosso projeto de escalar 10.000 metros de parede no período de 1 ano, estávamos meio atrasados com nosso cronograma.
Dia de céu azul e muito calor, para não perder tempo com deslocamento resolvemos escalar as vias da Pedra do Jacaré que fica a 5 minutos de caminhada do Camping Cantinho do Céu.
Com o guia “Escalada Capixaba” em mãos traçamos nossa estratégia, a primeira escalada que queríamos fazer era a via Lua de Mel. Seguimos até o que seria a base da via, anda para um lado, anda para outro e não conseguia achar o inicio da via. Para não ficar perdendo tempo resolvemos passar para outra via, Presente da Águia, 4° V E3 D1 290 metros.
Já passava das 10 horas da manhã quando começamos a escalar, as primeiras 2 enfiadas tranquilas e sem problemas, a partir da terceira enfiada que também é do crux, a via começou a ficar mais divertida, com a parede mais vertical a escalada é a base de cristais e agarras. A próxima enfiada é um bonito diedro com proteções em móveis, graduação bem tranquila e com a colocação bem fácil das peças móveis, a última enfiada chega a ser um passeio. Sem muita enrolação, assim que acabamos a via já começamos a providenciar a descida.
Na base novamente tivemos que caminhar alguns metros a direita para entrar na próxima via, Casa da Mãe Joana 5° VI E3 D2 – 330 metros, essa um pouco mais exigente do que a via anterior.
A essa altura do campeonato o sol e o calor já estavam castigando bastante, a preguiça de escalar começou a tomar conta, mas como tínhamos o objetivo de tentar fazer 3 vias no dia, logo começamos a nos mexer.
As 13 horas começamos a nova via, as duas primeiras enfiadas era muito parecida com a via anterior, mas as duas sequentes já foram bem mais duras, um lance mais delicado do que o outro, as proteções mais espaçadas deram uma apimentada na escalada. Saindo da P4 acabei me empolgando com as agarras que tinham na parede e segui para a direita, no croqui mostra a linha reta, mas na linha reta da parada não tinha nada, fui para um lado e para outro, não conseguia encontra nenhum grampo. Estava perdendo muito tempo para me encontrar, achei melhor pegar um pouco a esquerda da parada onde a Michelle dava segurança e, segui naquela linha rezando para encontrar algum grampo ou o buraco que dava para colocar o camalot 2 conforme o croqui mostrava. Depois de ter esticado a corda um bom tanto encontrei o buraco/fenda, um pouco acima da onde eu estava, olhando a distancia que avia esticado tive a certeza de ter pulado alguma proteção, mas já que estava ali, era melhor tocar pra cima do que tentar voltar. Depois de proteger com a peça móvel escalei até a P5 que não estava longe. Mais 55 metros de escalada, agora mais tranquila, finalizamos as 6 enfiadas dessa via.
Na descida só pensávamos em uma coisa, um suco bem gelado e sombra, o sol estava castigando de mais, fora a fome que bateu junto.
Depois de um breve descanso no camping voltamos a caminhar para chegar na base da próxima escalada que ficava na Pedra do Camelo, via do Marimbondo 2° III E4 D1 – 415 metros, escalada bem tranquila que resolvemos fazer em simultâneo.
Já passava das 18:30 da tarde, se tivesse 1 hora de luz seria muito. Tocamos em simultâneo do inicio até o fim da escalada. Pela chuva que se aproximava subimos quase que sem parar até o final. No cume algumas fotos e logo agilizamos nosso rapel. Achei melhor rapelar pela via Super Canaleta, pois em 6 rapeis estaríamos no chão.
O inicio do rapel veio acompanhado da noite, tentávamos descer o mais rápido possível com medo da chuva que se aproximava muito rápido, o clarão dos trovões começaram a ficar cada vez mais próximos.
Eu estava puxando o último rapel quando a chuva chegou, liberei a corda e mandei a Michelle acelerar. Em poucos minutos ela já estava ao meu lado, mas a chuva veio rápida e forte, também em poucos minutos aquela canaleta parecia um rio, não tivemos tempo nem de tirar os equipamentos, precisávamos sair dali o mais rápido possível.
Com toda aquela correria só colocamos as cordas dentro da mochila, o problema agora era para onde tínhamos que ir, a noite com aquela chuva grossa e forte, eu não conseguia ver mais que 2 metros na minha frente. Descemos meio que varando mato, tentando ficar longe de qualquer vale, mesmo que pequeno, tudo tinha virado um rio, alguns pequenos outros grandes o suficiente para arrastar uma pessoa.
Levamos mais de 1 hora para sair daquele sufoco, se não era o mato fechado era algum rio que não conseguíamos atravessar, fora algumas lajes de pedra que tivemos que descer de bunda com medo de escorregar.
Depois de um bom tempo se batendo na base da Pedra do Camelo, conseguimos chegar até o sitio que estávamos acampados. Tudo molhado, mas contentes de ter saído da roubada e ter finalizado 1035 metros de escalada …