Agudo Grande – Serra Virgem Maria

Agudo Grande – Serra Virgem Maria

16 de junho de 2024 2 Por Natan

Muitas vezes, ao alcançar os cumes da Serra do Ibitiraquiri ou do Capivari Grande, avistava ao fundo, bem distante em direção a São Paulo, um cume destacado que sempre me chamava atenção. A cena era recorrente. Com os amigos mais experientes ao meu lado, eu apontava e perguntava:
— “Tá vendo aquele cume lá longe? Sabe qual é?”

Depois de franzirem o rosto, tentando identificar o cume perdido no horizonte, geralmente respondiam:
— “Não sei!”

Raros foram os que arriscaram:
— “Acho que é a Serra da Virgem Maria… mas nunca fui lá!”

A verdade é que montanhas mais remotas ou difíceis acabam sendo deixadas para depois. Sempre há um projetinho mais simples por perto, mais rápido de resolver. As montanhas mais complicadas ficam para quando a motivação volta com força.

Durante a pandemia — aquele período caótico de tudo fechado, gente se escondendo pra ir pra montanha, e até montanhista delatando montanhista — percebi que era hora de finalmente sair do “depois” e explorar a tal Serra da Virgem Maria. E convidei alguém que sabia que faria a diferença: Fiori.

Julio Cesar Fiori é um cara que entende de montanha. Conhece histórias, caminhos e carrega no olhar a curiosidade de quem valoriza os detalhes. Ele já tinha ouvido falar da região, mas também nunca havia explorado. Em 2021, fomos até a divisa entre São Paulo e Paraná para um reconhecimento. Queríamos entender onde a caminhada poderia começar.

No vilarejo de Ribeirão Barra Grande, atravessamos o Rio Pardinho. A última chácara à direita parecia uma boa possibilidade. O chacareiro até foi receptivo, mas enfileirou obstáculos e “senões” que, de forma sutil, nos desencorajaram. Se foi de propósito, não sei. Mas que funcionou, funcionou… rsrsrs.

Voltamos à rodovia e tentamos do outro lado do rio. Pergunta aqui, conversa ali, e chegamos à última casa da estrada. Depois de um bom bate-papo e algumas histórias, conseguimos autorização para usar o terreno como base. Finalmente tínhamos um ponto de partida para o Agudo Grande.

Em 2024, ao planejar as atividades do Clube União Marumbinismo e Escalada (CUME), achei que incluir a Serra da Virgem Maria como atividade oficial seria uma ótima ideia. Desde sua fundação em 2020, o CUME — o mais novo clube de montanha do Paraná — tem como objetivo principal manter vivo o montanhismo tradicional. E aquela montanha se encaixava perfeitamente nessa proposta.

Com a chegada de junho, a ansiedade para a atividade só crescia. Faltava acertar os últimos detalhes. Eu e Fiori voltamos à região para reafirmar a liberação da passagem e afinar a logística. Dessa vez fomos recebidos com café e cuque. Fiori, sempre comedido, pegou só o café. Já eu… ataquei os cuques sem cerimônia. Quando nos despedimos, eu estava varrendo da barba os farelos que entregavam minha gula.

Na semana que antecedeu a caminhada, organizamos a lista de participantes e detalhamos a logística de transporte. Também reforçamos os protocolos internos do CUME, importantes para atividades mais exigentes. Criamos procedimentos simples e objetivos sobre o que fazer em caso de incidentes na montanha — tanto para os participantes quanto para os familiares que ficam em casa. Evitar pânico desnecessário é essencial.

Na sexta-feira, 14 de junho, começou nossa jornada rumo a uma montanha desconhecida por todos do grupo, mas aguardada com entusiasmo. Chegamos por volta das 23h. Os carros foram estacionados, algumas barracas montadas, e o restante se acomodou como deu — até no estábulo teve gente se ajeitando. Logo todos estavam prontos para descansar.

No sábado cedo, seguimos pela estrada em direção à mata. A moleza acabou rápido. Com o Rio Pardinho à nossa direita, sabíamos que existia uma trilha antiga na outra margem. Conseguimos encontrar a picada, aparentemente ainda usada. Era o caminho tradicional de mulas, décadas atrás, ligando a região à Serra Negra.

Com um grupo grande, o ritmo tende a ser mais tranquilo. Mantivemos todos próximos, sem grandes distâncias entre o primeiro e o último. O clima era leve, conversas rolavam soltas — política na ponta da fila, receitas no fim, e risadas em todos os cantos.

Subíamos, cruzando pequenos córregos com água fresca. Até que, ao alcançar um ponto mais alto, avistamos o cume do Agudo Grande pela primeira vez. A visão trouxe dúvida: daria tempo de alcançar o cume naquele fim de semana?

A partir dali, deixamos a trilha boa e seguimos por um rastro pouco definido, guiados apenas por coordenadas de GPS. O mato engrossou. O rastro sumia a todo momento. O ritmo caiu. Já andávamos juntos, com o primeiro ouvindo os xingamentos do último — cortados pelos capins navalha ou arranhados por espinhos.

O tempo voava. Sem visual do cume, só a orientação e as informações prévias nos guiavam. Ao cruzarmos um pequeno rio, decidimos acampar ali mesmo. O cansaço era geral, e o lugar oferecia água e espaço para redes e barracas. Ideal para descansar.

No domingo cedo, saímos leves, levando apenas água e lanche. Guga, um dos mais experientes, puxou a frente com ritmo forte. O terreno ficou mais inclinado. Guga encontrou um rastro que nos ajudou a ganhar altura rapidamente. A vegetação mudava conforme subíamos, revelando o quanto estávamos perto.

Perto do cume, o terreno ficou estranho. Muitas pedras, buracos, vegetação densa — um verdadeiro labirinto. Os últimos metros exigiram técnica: um trepa-mato difícil, quase uma escalada. Um a um, conseguimos levar todos ao topo do Agudo Grande.

A vista compensava. Era uma perspectiva inédita da Serra do Ibitiraquiri — parecia vê-la de trás pra frente. Estávamos todos ali, tirando fotos, contentes. Objetivo cumprido.

A descida até o acampamento foi mais rápida. O caminho, agora mais visível, facilitou a volta. Baixamos o acampamento, guardamos tudo e seguimos rumo aos carros. Finalizamos a caminhada por volta das 3 da tarde, todos em segurança e contentes.

O CUME, desde sua fundação, é questionado por incluir iniciantes em atividades exigentes. Mas temos um objetivo claro: formar montanhistas autônomos e preparados. Cursos são importantes, mas nada substitui a vivência prática. Estar na montanha com gente experiente, enfrentando perrengues reais, é insubstituível.

E pra não dizer que foi só alegria… no último trecho passamos por uma área infestada de carrapatos. Carregamos esses “adoráveis” souvenirs até o carro.

Valeu, galera, por esse fim de semana divertidíssimo. Chegar ao cume dessa montanha teve um significado diferente e especial. Que venham os próximos desafios!

Clube União Marumbinismo e Escalada.
Bolivia (Leandro), Luis, Rafael, Natan, Julio Fiori, Raphael, Vera, Marcia, Luiza, Josiane e Guga (Wilson).

Bora atrás do cume do Agudo Grande.

Seguindo pela estrada o máximo que puder.

Visual da região do Pico Paraná.

Ainda caminhando na tranquilidade.

Galera do cume animada para a empreitada.

Rumo ao rio, nosso ponto de referencia.

Um pouco de vara mato.

Luiza, Luis e Natan.

Tentando achar o melhor rumo, se deparamos com um pequeno rio serpenteando por dentro da mata.

Mesmo no perrengue a galera estava animada.

Esse foi o primeiro visual que tivemos do cume. Pela distancia achei que talvez não desse tempo.

Bora caminhar …

Definindo se iria ficar por ali ou não.

Tudo certo para passar a noite.

Se arrumando para passar a noite.

O domingo já começa com vara mato.

As meninas.
Luiza, Vera, Josiane e Marcia.

Natan e Luiza no cume do Agudo Grande.

Se apertando no cume.

Serra do Ibitiraquiri

Outro angulo do cume.

No cume, cada grupinho fica em um ponto mais plano.

Guga, Josi e Marcia no cume.

No cume do Agudo Grande o projeto 100 cumes do Paraná segue firme e forte.

Serra do Ibitiraquiri de uma visão diferente.

Clube União Marumbinismo e Escalada.