20 horas de caminhada
Todo começo de ano eu faço uma lista de montanhas, escaladas e travessias que quero fazer durante o ano, vejo com os camaradas qual é a agenda de cada um para podermos conciliar os mesmos objetivos com as mesmas datas e pronto! Durante quase um ano tenho praticamente 80% dos meus finais de semana comprometidos.
Uma das coisas que eu queria fazer que também era a vontade de alguns, era a travessia Ciririca-Graciosa de ataque. Uma travessia clássica do Paraná. Tenho um certo carinho por essa travessia, pois foi a primeira roubada que fiz com a piazada do Nas Nuvens Montanhismo e a primeira vez que usava na prática cartas topográficas e bússola (na época eu não tinha grana para comprar um GPS), resultado desse aprendizado: uma travessia que era para durar três dias levou cinco dias, quando a repeti algum tempo depois, levei dois dias e na terceira repetição com meu amigo Alisson, levamos 17 horas.
Madrugada de sexta para sábado, peguei o Vinicius em casa as 3:30h, já estava passando na casa do Alisson para pegarmos a estrada quando, a três quadras da casa dele fomos abordados pela polícia. Pra quem já foi abordado pela PM a noite já sabe que não dá para brincar.
-“Todo mundo pra fora do carro com a mão na cabeça”, gritou o policial ao lado da viatura com a pistola apontada em nossa direção. O Alisson tentou argumentar que morava logo ali mas, não concluiu a frase e já escutou: -“cala a boca que não te perguntei nada”. O PM revistou cada um e logo perguntou: -“Onde vão escalar?”, eu respondi: -“na região do Pico Paraná”. Fiquei com medo de dizer que estávamos indo para o Ciririca e ele não saber que era uma montanha e levar isso como um desacato. O policial nos desejou boa viajem e foi embora.
Nos encontramos com o Otaviano em um posto na BR 116, tomamos café e fomos até a entrada da Graciosa onde eu deixaria o meu carro, para o retorno. Seguimos com o carro do Otaviano até a Fazenda da Bolinha, onde se inicia varias caminhadas daquela serra e também nossa travessia.
Começamos a subir as 5:15h da manhã de sábado, ainda estava escuro e frio dentro da mata, pela previsão do tempo, o dia estaria com céu azul e sem chuvas, mas não foi bem o que aconteceu.
Depois de uma caminhada tranqüila e descontraída, chegamos ao cume do Ciririca
por volta das 11h, não apuramos muito o passo, pois, essa travessia é bem longa e não dá para se desgastar logo no começo da caminhada. No cume fizemos um lanche, tiramos algumas fotos e nos preparamos para a descida.
A descida do Ciririca rumo ao Agudo da Cotia é bem íngreme, como fazia três dias que chovia na serra, a trilha estava bem molhada e escorregadia. Na descida de um trecho quase que de 90°, com o auxílio de uma corda velha que esta lá que já faz, sabe Deus quanto tempo, o Vinicius acabou escorregando e batendo o dedo direto na pedra, é provável que neste pequeno acidente o seu dedo indicador tenha quebrado, pois, minutos depois começou inchar e doer.
Seguimos pela trilha até um lugar chamado Colina Verde, onde pudemos avistar
nosso próximo objetivo que era a Garganta do Arapongas. A partir desse trecho até a garganta, a caminhada é apenas pelos rios, entra-se em um vale pequeno, depois em outro um pouco maior e prossegue assim até chegarmos em frente da garganta, nesse ponto precisamos sair do rio e seguir pela mata. Encontramos algumas fitas nossas que tínhamos colocado há algum tempo que nos ajudou bastante, pois o rastro da trilha já havia desaparecido.
Chegamos na garganta próximo das 17h e sabíamos que ainda faltava muito para chegar no Marco 22 da Graciosa. Instalamos uma caixinha de registro nesse ponto,
pois os poucos grupos que fazem essa travessia tem que passar nesse local para seguir em frente, e um caderno para registro sempre é bom. Avisamos o Xandão, que iria fazer o resgate, para nos encontrar às 22h na Graciosa, com a cerveja gelada.
A partir da Garganta são horas e horas dentro do Rio Mãe Catira. É uma descida que parece que nunca vai acabar, tentamos descer o mais rápido possível para não pegar a noite dentro do rio, mas não teve jeito, anoiteceu e ainda não tínhamos nem chegado na cachoeira, que é
um ponto de referência que estamos próximos de sair da água para a trilha. Nessa descida não teve como escapar dos tombos no rio gelado e da ansiedade em sair daquele lugar, já fazia mais de doze horas que estávamos caminhando. O cansaço começou a tomar conta de todos.
Eram 21:30h quando conseguimos chegar na entrada da trilha que nos levaria até o Marco 22. Faltavam 2,5 Km, em linha reta, para chegarmos ao final da caminhada. Esse trecho da trilha é um sobe e desce incansável, no final de cada descida tem que passar por um córrego de água ou um rio, tínhamos sempre que sair para procurar a trilha, que estava fechada.
As 01:20h da manhã de domingo, chegamos ao Marco 22, totalizando 20 horas de caminhada para concluir a travessia de ataque. Foi muito desgastante mas, valeu a pena. O resgate do Nas Nuvens sempre é muito bem feito, o Xandão estava lá nos esperando com a cerveja gelada, Coca-Cola, esfiha de carne e, sempre com o mesmo sorriso estampado no rosto, mesmo depois de três horas de espera.
Alisson, Vinicius e Otaviano: foi um tesão de pernada! Xandão, muito obrigado pelo resgate de alto nível.
Muito bom o relato, bem objetivo. Acho que no Carnaval eu e mais uns parceiros vamos “pisar” por estas bandas. Li outros relatos agradecendo e muito o trabalho que fizeram em parceria com outros montanhistas com o intuito de melhorar a trilha para os próximos “navegantes”. Valeu, espero encontrá-lo de novo em alguma trilha por aí, sou o cara “perdidão” do Agudo, lembra,rsrs
Abs
Grande Anderson, é claro que eu lembro, vc me deu o maior susto aparecendo do nada sozinho e a noite rsrs.
Com certeza vc vai gostar muito dessa travessia, só cuide com a chuva pois pode deixar os rios bem cheios. Eu particularmente acho o ponto de sair do rio para chegar na garganta o ponto mais complicado da travessia.
Boa caminhada e depois mande o linck das fotos da travessia.
Um forte abraço.
E aí Natan, blz? Então, meus amigos não poderão ir nessa Travessia e eu to bem afim de ir solo. Além da recomendação de não ir sozinho, algo mais que considere importante pra eu não incomodar ninguém pra ir me buscar? rsrs