O via difícil de sair …
A via Deus e o Diabo é uma escalada cravada no meio da Serra do Ibitiraquiri, 500 metros de parede em uma das montanhas mais legais que gosto muito, o Ferraria. Já faz algum tempo que tento finalizar essa via, e sempre tem um “porém” que ainda não consegui finalizar, mas como diz o ditado, “sou Brasileiro e não desisto nunca” …
Tivemos 4 dias de tempo bom em Curitiba, isso nós animou para tentarmos fazer a via, depois de uma sequência de mais 30 dias chovendo na nossa serra, a vontade de entrar na parede era grande.
Sexta feira no final da tarde comecei a caminhada na Fazenda Rio das Pedras em direção a Picada do Cristovão, trilha essa que dá acesso para a base da via Deus e o Diabo. No texto “Ainda não foi dessa vez – Via Deus e o Diabo”, tem os betas de como chegar na base da via.
A caminhada com meus parceiros Juliano e Xandão foi constante e tranquila, seguíamos sem pressa nosso caminho através da noite clara e bonita que estava.
A estratégia original era dormir na base da via, para logo cedo começar a escalar. Durante todo a caminhada percebemos que a trilha estava mais molhada do que imaginávamos, os rios que cruzamos ainda estavam bem cheios, e quando chegamos no vale que dá acesso a base da via nós espantamos com o volume de água que descia.
O vale que precisávamos subir era para ser um vale seco e não um rio. Como já era 9 horas da noite achamos melhor mudar a estratégia, dormiríamos ali mesmo e no outro dia bem cedo subiríamos mais leves até a base da via carregando apenas nossos equipamentos de escalada.
Fazer comida com o Juliano é sempre arregado, ele sempre leva alguma coisa boa para comer e geralmente se propõe a fazer a comida. E durante essa preparação não podia faltar alguma coisa quente e forte para beber.
Acordamos cedo e logo após o café da manhã começamos a subir, caminhada complicada e meio perigosa, tudo estava escorregando, liso e escorrendo água. Levamos mais tempo do que tínhamos programado. Depois de levar mais que 1 hora trepando no molhando finalmente chegamos no nosso destino.
Tentando agilizar para compensar o tempo perdido na subida, nos equipamos o mais rápido possível para entrar na parede.
Juliano que já estava pronto puxou a primeira enfiada da via, já na largada falou que a parede estava suja e o gripe da rocha não estava lá aquelas coisas. Logo em seguida foi a minha vez. Lembro que a outra vez que eu tinha escalado essa parede, as primeiras 4 enfiadas não eram difíceis, mas essa vez parecia que a sapatilha e a rocha não estavam se entendendo direito.
Xandão veio por último pois ele era o próximo a guiar. A segunda enfiada tem uma passada em furo de cliff que o Xandão passou sem problemas, mas também reclamava que a sapatilha não estava segurando muito na rocha. Logo que passou o lance de cliff ele deu uma ganhou altura e parou, ele ficou por algum tempo se batendo para subir. Eu e o Juliano víamos de baixo ele patinando na rocha e xingando que a sapatilha não parava. Não deu outra, de repente o grito “queda” e o Xandão veio ralando na parede e acabou batendo em um pequeno platô. Depois de alguns minutos para ele se recompor acabamos baixando ele até a parada onde estávamos.
Peguei a ponta da corda e toquei para tentar a segunda enfiada, passei no perrengue também mas consegui chegar na P2. Dei segue para meus dois companheiros, logo que chegaram conversamos e chegamos a mesma conclusão, a parede ainda estava úmida devido a tanto tempo chovendo na nossa serra, e se ali nas primeiras enfiadas que eram teoricamente fáceis de escalar já estava ruim, imagine lá para cima onde teríamos que nos enfiar em trepa matos.
Baixamos, achamos o mais correto a ser feito naquela situação.
Descida complicada e perigosa, teve lugares do vale que tivemos que montar pontos de rapel para descer devido a inclinação e as pedras completamente lisas.
Mais uma tentativa frustrada, mas daqui a pouco sai essa linda parede!!!!