Quando a escalada quase da merda …

Quando a escalada quase da merda …

11 de agosto de 2018 0 Por Natan

Guilherme Schnirmann e Guilherme Kus são dois amigos da academia onde treino escalada. Após muitas conversas e histórias sobre as escaladas no Marumbi, acabou dando certo de marcar uma escalada no berço do montanhismo brasileiro.

Os dois escaladores ainda não conheciam as belas escaladas tradicionais e históricas que o Marumbi apresenta, então escolhi uma via bem clássica e diferente do que estão acostumados em fazer em falésias.

A Passagem Oeste, conquistada na década de 50 com uma sequência de chaminés, seria uma escalada bem divertida para a dupla “Guilhermes” que nunca tinham entrado em nada parecido antes.

Sábado com um dia lindo e rocha seca, partimos rumo ao Vale da Oeste levando todo equipamento necessário para escalada. A caminhada fluiu constante e rápida em meio a floresta, uma parada ou outra para namorar as vias que apareciam a nossa esquerda assim que o vale estreitou.

Já na base da Passagem Oeste, Guilherme Kus se propõe a guiar a primeira enfiada, deixei os dois bem à vontade para guiar quando quisessem. Kus logo que começou a escalar já estranhou aquela parede verde e peluda, pela aparência já fazia algum tempo que ninguém passava por aquela bandas. Mesmo tendo que limpar a rocha nos pontos onde precisava colocar a sapatilha, Kus guiou até a primeira parada sem problema algum. Guilherme Schnirmann de segundo subiu, mas também comentando, “como é que escala nesse tapete verde rsrs”.

Depois da primeira parada a linha segue por um trepa mato-trilha até chegar no lance do cavalinho, nada difícil mas meio esquisito de passar o lance sem proteção alguma, mais alguns metros e já estamos na base da primeira chaminé.

Puxei a enfiada até sair daquele buraco e montar o ponto de segurança em uma grande árvore que fica entre as duas chaminés, entre um xingamento e outro os dois escaladores habituados a escalar falésias iam aprendendo como ganhar altura entre duas paredes.

Apesar de estar a vários dias sem chuva, a segunda chaminé ainda tinha vários pontos molhados, com muito cuidado e gelando as costas naquela parede úmida, consegui finalizar esse trecho.

Mas alguns metros entre as árvores e chegamos na base da Chaminé Podre, o nome já diz tudo, de vez em quando ainda cai uma pedra ou outra.

Guilherme Kus se prontificou a puxar novamente a guiada, apesar do nome o lance é feito em livre com uma saída bem chatinha de fazer, mas passando os primeiros metros a escalada fica bem mais tranquila até um grande platô um pouco abaixo do Parque do Lineu.

A base da Chaminé Podre é bem ruim, meio que no barranco, o único lugar que dá para ficar, é ancorado em uma árvore no pé da rocha, e era ali que eu e Guilherme Schnirmann batemos nossas auto-seguranças para dar segue ao Kus que guiava.

Não demorou muito escutamos um grito “na minha, pode liberar”, rapidamente Schnirmann se preparou e começou a escalar.

Ele também se bateu um pouco na saída, mas logo conseguiu vencer o lance e se mandou para cima, eu ali sozinho preso a árvore arrumava a corda que estava aos meus pés e que aos poucos subia sendo levada pelo Guilherme.

Enquanto desenrolava a corda de cabeça baixa, escutei um grito histérico do Guilherme Schnirmann, “PEDRAAAAA”, rapidamente olhei pra cima e não acreditei no que estava vendo, o céu, que estava azulado, começou a escurecer… a “pedra” não era uma pedra, era uma laca enorme que descolou da parede da chaminé parecendo um foguete no ar em alta velocidade, eu preso aquela árvore que no primeiro momento era minha segurança agora se tornava uma âncora que não me deixava sair daquele ponto fixo. Reflexo é instintivo, foi tudo tão rápido que o único movimento que deu tempo de fazer foi jogar meu corpo para esquerda o máximo que eu conseguia, aquela laca que devia ter 1 metro de comprimento passou a alguns centímetros do meu braço, consegui sentir o vento que aquele projétil fez ao passar por mim e se despedaçar nas árvores logo abaixo.

Fiquei congelado! Sou moreno mas na hora devo ter ficado branco como leite, parece que eu sentia o sangue paralisar e logo ouvi o Guilherme gritando lá de cima, “tudo bem ai Natan?”, ao mesmo tempo que respondi que estava bem eu colocava a mão na bermuda para saber se não tinha me borrado inteiro.

Finalizei a via e me juntei com os parceiros que me esperavam no platô, susto para todos, pois viram o tamanho da laca que descolou e desceu.

Depois de um lanche e um pouco de descanso, ainda tivemos ânimo de fazer mais uma chaminé, já que tiramos o dia para isso… Lá fomos nós para a Chaminé do Gavião, apesar de ser uma subida cansativa essa escalada tem um visual fantástico da parada.

Esse deve ter sido um dos maiores incidentes que já passei na montanha, já me meti em muita roubada nesses anos, mas nunca tinha passado um susto tão grande como esse. Culpados? Ninguém! Todos estavam fazendo a sua parte, cuidando ao máximo com os procedimentos de segurança o tempo todo, se aquela “pedra” me acertasse, não tenho nem idéia do estrago que poderia fazer, só sei que o direito ao risco jamais pode ser tirado da trajetória de um montanhista ou escalador, e todos estão cientes que montanha não é passeio no Parque Barigui!

Uma das passagens dentro do vale.

Uma das passagens dentro do vale.

Uma ajuda sempre é bem vinda!

Uma ajuda sempre é bem vinda!

Parede peluda já no inicio da via.

Parede peluda já no inicio da via.

Inicio da primeira chaminé sem proteção.

Inicio da primeira chaminé sem proteção.

Quase finalizando.

Quase finalizando.

Aprendendo a subir entre paredes.

Aprendendo a subir entre paredes.

Galera no buraco.

Galera no buraco.

Visual fantástico em um dia lindo.

Visual fantástico em um dia lindo.

Inicio da Chaminé do Gavião.

Inicio da Chaminé do Gavião.

Kus se ajeitando na chaminé.

Kus se ajeitando na chaminé.

Bons parceiros, Guilherme Kus e Guilherme Schnirmann.

Bons parceiros, Guilherme Kus e Guilherme Schnirmann.

Na parada da Chaminé do Gavião, Natan, Guilherme Kus e Guilherme Schnirmann.

Na parada da Chaminé do Gavião, Natan, Guilherme Kus e Guilherme Schnirmann.