Fenda 1 – Marumbi
Fenda 1, estava na lista de escaladas que eu queria fazer já fazia um certo tempo. Não consegui entrar nela depois da regrampeação por vários motivos, conciliar tempo seco no final de semana e parceria que tope uma escalada como essa não é fácil.
Apesar das dificuldades consegui achar uma boa parceria, Nelson não fez corpo mole, de imediato aceitou meu convite para escalar no Marumbi.
Já passava das 9 da manhã quando chegamos na base da Fenda 1. Não foi difícil localizar o início da via, passando a entrada da Guardião da Floresta e da Ilusionista a Fenda 1 é a próxima via, uma chapa dupla com um longo paliteiro não deixa dúvidas que ali é a nossa primeira enfiada.
A primeira enfiada não tem segredo, artificial do início ao fim, uns 40 metros se pendurando em grampo velho até chegar a primeira parada.
Eu tinha o croqui da via, mas não sabia ao certo se tinha mudado alguma coisa depois da regrampeação. A saída para a segunda enfiada não era tão clara, eu avistava uma chapa a minha direita indicando o caminho para a Fenda 2 e não acha chapeleta nem rastro nenhum para esquerda como dizia o croqui, fui subindo aos poucos tentando achar alguma entrada no mato que levasse a base da Fenda 1. Depois de subir alguns metros trepando no mato consegui avistar a base da fenda, estava bem a esquerda para baixo da onde eu estava, tive que fazer um malabarismo para conseguir descer sem tomar uma queda.
A entrada no mato para chegar na base da fenda ficava pouca coisa acima da P1, acabei subindo tudo aquilo de graça … mas realmente esse caminho não estava tão óbvio assim.
Chegando na base da fenda deu para ver que não seria de graça, uma longa chaminé se erguia por dentro da montanha. Aos poucos fui ganhando altura. Apesar de cumprida a chaminé não era apertada e eu consegui me movimentar tranquilamente.
No final da chaminé tinha um pequeno platô na direita com uma árvore, ali montei uma parada para fazer a segurança do meu parceiro.
A segunda chaminé também era bem longa, na teoria, no final deveria ter outro platô com uma parada. Subi guiando e protegendo nas poucas proteções que eu encontrava pelo caminho, o camalot 6 que eu levava atrapalhava muito, mas como eu não tinha noção em qual enfiada eu usaria, tinha que ficar carregando aquele “badalo” enorme na cadeirinha.
Sai da chaminé e fiquei em cima de uma pedra tentando achar uma parada dupla, sem encontrar nada comecei a subir por um trepa mato que levava a outra chaminé logo acima. Não subi muito e a corda travou “Corda Nelson” gritei, com uma comunicação bem ruim consegui entender que a corda tinha acabado. Aos poucos fui ganhando corda a medida que o Nelson escalava, lembrei que a minha última proteção ainda era dentro da chaminé a uns bons metros da onde eu estava, eu só rezava para que o Nelson não tomasse um escorregão ou algo parecido, pois se eu caísse dali sabe Deus aonde eu iria parar.
No final do trepa mato avistei o paliteiro da próxima fenda, suando frio montei uma equalização no primeiro grampo antigo do paliteiro e melhorei com uma peça móvel, não era uma equalização das melhores mas foi o que consegui improvisar naquela situação.
Assim que o Nelson chegou já me aprontei para puxar a próxima enfiada, debaixo não parecia que eu ia suar tanto assim para escalar, mas acabou sendo a enfiada mais difícil da via na minha opinião.
Não subi muito e encontrei uma parada dupla novinha brilhando a poucos metros da minha cabeça. Chegando na parada até deu uma certa preguiça em ter que montar tudo para dar segue para o Nelson já que eu tinha escalado pouco, mas como não sabia a quantos metros estava a próxima parada achei melhor dar segurança dali mesmo.
Depois do Nelson também sofrer um pouco naquele paliteiro ruim voltei a puxar a enfiada na fenda, eu já não tinha certeza se aquela parada era a P3 ou a P4. Não escalei muito quando cheguei em um platô na base de outra fenda, ali pude ter certeza que estava na P5 da via.
Pelo croqui essa última fenda era o crux da via, uma fenda meio apertada, rasa, tombando um pouco para direita, dava a impressão que estaria jogando o escalador para fora o tempo todo. Não sei se eu consegui me ajeitar bem dentro da fenda, mas para mim não foi o crux da via e não era tão difícil como parecia. Depois da fenda uma canaleta de mato, bem chatinho de subir. Pelo croqui original em algum ponto eu teria que sair a esquerda da canaleta para chegar na última parada. Escalei sempre observando se não tinha nenhuma saída a esquerda, mas chegou um ponto da canaleta que o mato não deixava mais avançar e o jeito era sair pela esquerda, logo que fiz a virada já deu para ver a parada dupla bem a frente.
Quando o Nelson chegou na P6 era próximo das 16 horas, contentes e cansados tiramos algumas fotos e começamos agilizar nosso rapel. Um pouco abaixo tinha uma língua de mato, rapelei nesse trecho até encontrar uma parada dupla, estava tentando achar a linha da via Ilusionista para descer.
No rapel seguinte sai por cima de um teto com mais uma parada na base desse teto, parei e peguei o croqui da Ilusionista, não tinha nenhum teto na via, só ai me toquei que estava descendo pela linha da via Caroço. Nesse mesmo rapel desci até a P3 da Caroço e dali para baixo desci pela via Guardião da Floresta, em pouco tempo estávamos no chão em segurança.
Fenda 1, escalada muito bonita e divertida que vale a pena entrar para conferir, eu estava bem contente com o belo dia de escalada, meu companheiro Nelson também muito satisfeito em escalar no Marumbi pela primeira vez em uma via clássica como essa, nosso Marumbi como sempre nos proporcionando dias incríveis na montanha …