Arapongas, Coxotó e Tangará

Arapongas, Coxotó e Tangará

27 de setembro de 2020 1 Por Natan

Tem algumas montanhas na Serra do Mar que não é tão simples de subir, região dos Agudos, Farinha Seca, região do Chapéu e Espinhento, Arapongas … Montanhas que o acesso é ruim, é longe e as trilhas pouco ou quase nada frequentadas.

Com várias restrições de acesso em parques de montanha no Paraná fiquei meio limitado a poucos lugares. Estava querendo dar uma caminhada mais pesada e divertida, e o Arapongas seria uma boa opção nesse momento.

Depois de deixar o carro na Fazenda Gauber na base do Mãe Catira seguimos a pé até a entrada do Marco 22 que fica um pouco abaixo do primeiro quiosque da Estrada da Graciosa.

Era exatamente 7:10 da manhã quando chegamos no Marco 22. Enquanto tirávamos algumas fotos chegou 2 rapazes que também entrariam nessa trilha. Papo vai, papo vem enquanto descíamos a trilha, o Alex contou qual era o plano da dupla. Fazer a travessia Marco 22 até a Bolinha de ataque e retornar pela rodovia para pegar o carro. Realmente uma caminhada de respeito e que exige um condicionamento físico excepcional para fazer tudo isso. No final da nossa caminhada encontramos os dois corredores e ficamos felizes de saber que conseguiram concluir sua programação.

Nosso plano era uma caminhada bem pesada, seguir até a Garganta 235 que fica umas 5 horas do ponto inicial, depois tocar até o cume do Coxotó e de lá seguir para o cume do Arapongas e retornar para a Garganta, caso desse tempo de chegar ainda de dia, seguir até o cume do Tangará.

Uns 15 minutos depois que nos despedimos da dupla de corredores de aventura que saíram no trote na nossa frente, encontramos os dois novamente procurando a trilha. Passamos todos juntos por uma grande árvore que tinha caído e bloqueando o rastro da picada. Do Marco 22 até a Cachoeira do Mãe Catira fomos nessa, a dupla saia na frente e um tempo depois encontrava os dois tentando achar a trilha. Esse trecho realmente não é fácil, muita picada secundaria, algumas árvores que caíram e bloquearam a trilha ou a mata muito aberta parecendo um bosque que acaba confundindo o caminho certo. GPS ajuda, mas não resolve, se não tem uma boa noção de como é essa região, provavelmente vai se perder ou errar muito. Já passei nesse trecho várias vezes, e até hoje erro a trilha em algum ponto.

Mesmo com a previsão de ser um dia muito quente, por estar dentro da mata a temperatura era muito mais tranquila. Depois que passamos a Cachoeira do Mãe Catira passei a dica de alguns lugares que a dupla de corredores deveria ter um pouco mais de atenção, mas que agora ficava bem mais tranquilo.

Eu e a Luciana seguimos nossa caminhada em um ritmo forte, mas sem correr, além de ter muito chão pela frente eu não sabia como estava a trilha até o Arapongas, mas já estava ciente que estaria meio fechada e bem ruim para passar.

Por volta do meio dia chegamos na Garganta 235. Já munido de 3 litros de água para cada um, tocamos até o cume do Coxotó que fica bem próximo dali. O visual estava colaborando, só o calor na crista que não ajudava muito, expostos ao sol deu para sentir que a subida até o Arapongas não seria muito tranquila.

Depois de assinar o caderno de cume do Coxotó a trilha ficou bem ruim, mato fechado com um pequeno rastro no chão era nossa única referência. A trilha não é fitada e é pouco frequentada. No fundo do vale entre as duas montanhas o mato tomou conta, nem rastro de trilha tinha mais, apenas um bambuzal do cacete com um monte de Capim Navalha que “lambia” meu braço e deixava mais cicatrizes do que já tenho na pele.

Assim que passamos pelo colo e começamos a subir o Arapongas escutei um barulho esquisito, pedi para a Luciana fazer silêncio para tentar entender o que era. O “som esquisito” que parecia estar longe agora se aproximava e rapidamente identifiquei o que era. Um enxame enorme estava passando por cima de nós, eu não consegui ver as abelhas por causa da mata fechada, mas deu para escutar perfeitamente aquele enxame passando por cima e seguindo seu caminho. Não tem como não ficar com o cú na mão, um ataque de abelhas naquela situação que estávamos seria quase impossível sobreviver.

Depois do susto continuamos nossa caminhada rumo ao cume. A trilha continuava ruim, não aliviava, e às 14:55h conseguimos alcançar nosso principal objetivo que era o Arapongas. Montanhista gosta de fazer algumas coisas retardadas, levar quase 8 horas de caminhada para chegar no cume de uma montanha que nem tem visual, nem é uma montanha tão bonita assim, vai entender rsrs …

O caderno de cume está praticamente novo, já fazia um ano que eu tinha passado ali, e nesse período só apareceu um grupo de montanhistas nessa montanha.

Quando saímos do cume já era 15:30 da tarde, eu estava cansado, desgastado pelo sol e da caminhada do dia anterior, o tempo estava começando a fechar, e chegar no cume do Tangará de dia com o tempo aberto era pouco provável.

No retorno quase chegando na Garganta tínhamos um lindo mar de nuvens, só os cumes de fora e o Tangará muito próximo e aberto. Aceleramos a caminhada e resolvemos tentar a terceira montanha do dia.

Para nossa sorte e alegria conseguimos chegar no cume do Tangará de dia e com visual, era 17:20 e o tempo estava virando, 10 minutos com o cume aberto foi o suficiente para tirar algumas fotos até as nuvens tomarem conta. O tempo virou completamente, até anorak tivemos que colocar no cume.

No retorno para a Garganta 235 foi necessário as lanternas, o tempo tinha virado e agora escutávamos o estrondo de trovões que caiam um atrás do outro ao nosso redor. Saímos da Garganta as 18:15 em ponto, sabendo que não seria um retorno fácil, cansados, trilha ruim, noite, frio e com chuva. A única coisa que falei para a Luciana foi, “agora não é um bom lugar e nem o momento para se machucar, tome muito cuidado que a trilha virou um sabão!“.

Tocamos direto, descemos até o Dique Diábase, passamos a Cachoeira do Mãe Catira e só fomos parar para comer alguma coisa no segundo cruzo do rio depois da cachoeira, isso significa quase 3:30 de caminhada sem parar para nada.

Como de costume não tinha como terminar toda a trilha nessa região e não dar uma perdida. Na última subida para chegar na Estrada da Graciosa acabei perdendo o rastro da trilha e levamos quase meia hora para achar nosso caminho novamente.

Às 23:10 conseguimos chegar no Marco 22. Caminhada pesada, trilha ruim, sobe e desce que não acabava, mas graças a Deus deu tudo certo para fazer essas 3 montanhas tão pouco frequentadas e com um visual muito diferente do que estamos acostumados.

 

Marco 22 na Estrada da Graciosa

Marco 22 na Estrada da Graciosa

Alex, Matheus (corredores), Luciana e Natan na Cachoeira do Mãe Catira

Alex, Matheus (corredores), Luciana e Natan na Cachoeira do Mãe Catira

CUME - Clube União Marumbinismo e Escalada. Aos poucos criando um histórico.

CUME – Clube União Marumbinismo e Escalada.

Com o calor que fazia era difícil não encontrar alguma cobra pelo caminho

Com o calor que fazia era difícil não encontrar alguma cobra pelo caminho

Garganta 235

Garganta 235

Do cume do Coxotó a vista do Camapuan e Ciririca.

Do cume do Coxotó a vista do Camapuan e Ciririca.

Chegando no cume do Arapongas

Chegando no cume do Araponga

Subindo Arapongas

Subindo Arapongas

Os Agudos ao fundo

Os Agudos ao fundo

Arapongas

Araponga

No retorno ao Coxotó um belo mar de nuvens

No retorno ao Coxotó um belo mar de nuvens

Cume do Tangará, ao fundo Coxotó e Arapongas

Cume do Tangará, ao fundo Coxotó e Araponga

Caixa de cume do Tangará

Caixa de cume do Tangará

Caderno todo molhado, trouxemos embora para tentar salvar e fazer a entrega para algum dos clubes de montanhismo.

Caderno todo molhado, trouxemos embora para tentar salvar e fazer a entrega para algum dos clubes de montanhismo.

Hora de voltar pra casa

Hora de voltar pra casa

Marco 22 às 23 horas

Marco 22 às 23 horas