Circuito Canal – Vigia, um teste da recuperação …

Circuito Canal – Vigia, um teste da recuperação …

5 de junho de 2021 2 Por Natan

Duas semanas de isolamento, depois que testei positivo para o COVID foi isso que precisei fazer, ficar isolado, esperando passar o tempo e me recuperando.

Nunca me iludi pensando que eu sou super homem ou que isso nunca aconteceria comigo, só eu sei o quanto já abusei do corpo. Só faz um ano e meio que consegui parar de fumar o velho Marlboro vermelho que me acompanhou todos os dias por mais de vinte anos, na verdade substitui pelo cigarro eletrônico. Fora os maus hábitos de beber, dormir pouco, se estressar muito e com uma alimentação farta em sal e pimenta. Não, não é bonito … mas é só para contextualizar que minha vida não é de hábitos exemplares de saúde e que para mim era uma grande dúvida de como o meu corpo iria reagir quando eu pegasse a porra do covid.

Peguei, fiquei bem ruim por alguns dias, monitorei minha oxigenação e me auto mediquei, já que os dois médicos que consultei queriam receitar Dipirona.

Nunca falei que essa doença não mata, mas sempre fui contra esse “trancamento” de todos. Quebrar a curva de contaminação para o sistema de saúde conseguir atender a todos, tinha todo o sentido lá trás, mas deixou de ter sentido quando o poder público não fez a sua parte.

Não vou arregaçar com o meu trabalho trancado em casa porque um pólitico idiota acha mais fácil te trancar e vez de fazer a parte dele. Não vou deixar de cuidar da minha saúde mental e minha sanidade em uma época tão difícil porque um montanhista hipócrita está me apontando o dedo quando vou para montanha.

Mais de um ano se passou desde o início da pandemia, e durante todo esse tempo o que eu mais vi e presenciei foi a hipocrisia.

O ano passado fui muito criticado por me manter indo para montanha, treinando e trabalhando. 

Mas o tempo passou, e a cada dia a hipocrisia fica estampada na cara de muitas pessoas do nosso meio.

Para o politicamente correto, o sensato, que se achou no direito de apontar o dedo para os outros chamando de egoísta, genocida, sem empatia … te faço algumas perguntas antes de vc encher o saco dos outros:

Qual é a diferença do ano passado para esse ano?

Se vc não foi o ano passado para montanha porque se preocupa com vc e com os outros, porque está indo esse ano?

Se não era para te considerar mais seu amigo porque fui escalar em 2020 … ta fazendo oque viajando para escalar em 2021?

Vc não esta indo para montanha? desculpe … vc esta pedalando e tirando selfi com os amigos no barzinho na beira da estradinha enquanto toma um refrigerante. O vilarejo que vc comprou o refrigerante não tem covid? vc esta de máscara e ai ta tudo certo!

Se fizeram uma barreira sanitária na entrada do Anhangava em 2020 para não subir a montanha pensando no bem estar da população … tá fazendo o que no Anhangava no final do dia para ver o por do sol nesse ano? Que eu saiba o número de pessoas diariamente que infelizmente perderam a vida em 2021 esta bem maior que 2020. 

Marumbi … a o Marumbi.

Para vc estar na vila do Marumbi vc deve se teletransportar pelo jeito… com certeza! pois vc não precisa ir no mercado, abastecer seu carro, caminhar e cruzar com pessoas durante esse percurso para chegar na vila do Marumbi né! Subir a montanha vc é uma pessoa egoísta que só pensa em vc, mas socializar na casa um do outro pode? Que isolamento de merda esse …

Vc também pode se machucar caminhando entre o Marumbi e Engenheiro Lange e precisar de um hospital, isso não é uma suposição, é fato que eu mesmo já presenciei, qual é a diferença de estar lá em cima?

Enfim … eu podia passar a noite inteira aqui dando exemplos reais de montanhistas e escaladores hipócritas que se acham os donos da razão e dos bons costumes.

Não quer ir para montanha, não vá. Só não encha o saco e queira impedir os outros de irem. Se quer fazer alguma coisa pelo bem estar da montanha, ajude efetivamente. Falando besteira e fazendo ao contrário do que prega, não ajuda em nada.

 

Retomando …

 

Para tirar a dúvida de como estou fisicamente depois do covid escolhi uma coisa um pouco mais leve e tranquila para caminhar, Canal – Vigia, parecia ser um bom lugar para isso.

Minha enteada Luiza se animou para me acompanhar, deixei para subir no final da tarde para evitar o calor forte deste sábado.

Começamos a subida já era 4:30 h da tarde, deixei a Luiza puxar a caminhada no ritmo dela, mas já nos 10 primeiros minutos de caminhada tive que pedir para diminuir o ritmo, meu fôlego não estava lá aquelas coisas.

Subimos com os passos um pouco mais tranquilos sem forçar muito. 

Fazia muito tempo que eu não subia o Canal. A trilha estava uma avenida, muita trilha secundária aberta pelas laterais das pedras e vegetação cada vez mais detonada.

Encontrei o Marcio e sua namorada escalando mais próximo ao cume, um bate papo rápido e eu segui com a Luiza nosso roteiro.

Do outro lado do Morro do Canal eu esperava encontrar a corda que era usada para descer alguns metros de rocha vertical, daria umas fotos boas da Luiza descendo esse trecho, mas quando cheguei no que era uma corda fixa agora era um lance inteiro de degraus fixos. Tudo bem … para uma montanha com o fluxo de pessoas que o Canal tem, é melhor e mais seguro facilitar a passagem dos visitantes, algumas montanhas vão precisar ser sacrificadas para atender aos turistas.

No vale já tivemos que pegar as lanternas, eu já não estava enxergando onde pisava.

Logo chegamos no cume do Vigia. O vento forte e gelado nos obrigou a se agasalhar assim que apontamos na pedra do cume. Avisar a Mamãe que estava tudo bem era outra coisa bem importante que precisávamos fazer.

Enquanto comia nosso lanche e aproveitava o visual das luzes da cidade, apareceu um perdido meio desesperado querendo saber para onde estava o Morro do Canal. Tentei convencê-lo a descer pelo mesmo lugar que subiu, mas foi inútil. Já tinha outros 2 amigos dele perdidos tentando achar o caminho para o Canal. A teimosia de todos eles em insistir no erro me deixou tranquilo, fiz o que podia para ajudar mas não quiseram. 

Eu segui com a Luiza na nossa descida e bate papo agora voltando para casa.

Próximo a entrada da Torre do Vigia encontramos um corredor sozinho perguntando se tínhamos visto um casal e uma criança, estava atrás desses três que pareciam estar perdidos. Avisei que não tinha encontrado ninguém com esse perfil, o corredor continuou sua subida frenética e nós a nossa descida tranquila.

Levei 3 horas para fazer todo o percurso. Sem correria e sem força nada caminhei tentando achar alguma anormalidade no meu físico, aparentemente só o fôlego está pior. 

Voltar a rotina de treinos e caminhadas para monitorar como vai ser as coisas nesse retorno.

Valeu pela companhia e parceria Luiza.

Eu e a Luiza no cume do Morro do Canal

Descida do Canal sentido cume do Vigia

Lance de cordas fixas que se tornaram degraus.

Final da caminhada já em segurança na fazenda.