Dedo de Deus

Dedo de Deus

3 de setembro de 2021 0 Por Natan

RELATO DA LUIZA

Esse ano, comecei a ter um interesse maior pelas montanhas e pelo montanhismo.
No ano passado eu conheci o conjunto Marumbi, o Cemitério dos Grampos, o Viaduto do Carvalho e o famoso Rocheadinho. Mas ainda queria entender o porquê a Luciana e o Natan gostavam tanto daquele lugar? De ficar no meio do mato, de subir e descer montanhas? Esse foi questionamento que fiz, e consegui responder este ano.
Em janeiro, atividade de abertura oficial do Clube União Marumbinismo e Escalada (CUME), a minha intenção era fazer a travessia Taipa – Ferreiro – Ferraria. Minha mãe e meus irmãos iam somente até o Morro do Getúlio e voltar. Era para eu ter continuado, com o Natan como responsável. Mas não foi bem assim, cheguei no Getúlio bem cansada, sem contar que chorei no caminho, por não conseguir acompanhar o grupo, após a Luciana falar que não era para eu me frustrar, e que eu já não praticava nada a um ano, acabei voltando para casa.
Mas não desisti, continuei indo em todas as atividades do clube, e acompanhando a Luciana e o Natan por todos os cantos.
Em junho, o Natan me convidou para escalar no Anhangava, a via escolhida foi a José Peon. Esse foi o meu primeiro contato com os equipamentos e técnicas de escalada. Ele escalou, e vendo ele fazer, pareceu tão fácil. Quando a corda esticou eu ouvi: “Quando quiser”, respondi ”Escalando” e fui. Logo nos primeiros lances, comecei a chorar de medo, até tentaram me acalmar, mas não adiantou muito e fui chorando mesmo. Cheguei na parada com o Natan, e a Luciana logo estava lá também, e me perguntou se eu gostei, eu logo respondi: “Acho que ainda é cedo demais para decidir”.
Mas nesses meses, indo constantemente para a montanha, seja para caminhar ou escalar, aprendi muita coisa, e com isso tive uma evolução rápida.
E nesse último feriado que o ‘bicho pegou’, o desafio foi um Clássico do montanhismo brasileiro, o famoso Dedo de Deus.
Saímos de casa na quinta-feira (02/09) às 16h00m, sentido Teresópolis, já fomos com as mochilas prontas para subir, com comida e equipamento, pois dormiríamos dentro do carro.
Chegamos no estacionamento da lanchonete Paraíso da Serra por volta das 3h30m, cada um se ajeitou como pode para descansar. Acordamos aproximadamente às 7h30m, comemos pão com manteiga e achocolatado, trocamos de roupa, apanhamos as mochilas e fomos.
Eu estava super animada, para mim nem era real, ‘Como assim vou escalar o Dedo de Deus!’.
Iniciamos a trilha às 8h30m, estava abafado. O começo da caminhada é bem íngreme, lembra bem as trilhas do Marumbi, depois só piora. Após 1h de caminhada chegamos nos cabos de aço. Ao ver a pedra molhada o Natan já falou: ” tomara que não esteja assim lá para cima”.
Antes de começar a subir pelos cabos de aço, nos equipamos com a cadeirinha e alto segurança, o Natan também aconselhou a colocar luvas. Luciana e eu só obedecemos.

Primeiro o Natan ajudou a Luciana a começar a subir, ela que logo pegou o jeito de como funcionava, foi tranquila. Em seguida ele me ajudou a subir, e veio logo atrás de mim, me auxiliando. Ali eu já estava com bastante medo, porque não estava confiante com meu calçado.
Ao chegar no segundo cabo de aço, que iria para um transversal, o Natan achou melhor nos encordar, pois estava ruim de ele continuar fazendo como foi o primeiro.
Durante todo o caminho até a base da via, eu estava muito animada. Encantada, acho que essa é a palavra certa. Não parava de rir e falar. Eu ainda não acreditava que estava fazendo aquilo, não acreditava que estava lá. Chegamos na base da via às 11h40m, subimos em um mirante que tem logo na frente, fizemos um lanche rápido, e meio dia começamos a escalar. Natan guiando, e como estávamos com duas cordas, Luciana e eu, cada uma em uma ponta, começamos a escalar simultaneamente.
A primeira cordada foi fácil, até porque eu continuava tagarela.
A segunda cordada, no lance inicial eu vi o Natan fazendo, e não pareceu ser fácil passar por aquela pedra, quando ele passou o lance, falou que era estranho, mas era bem de boa. Logo escuto, “Quando quiser!”. Foi então que enchi minha mão de magnésio, porque eu já estava suando, e nesse ‘lance esquisito’, eu travei de medo. Segurei o choro, concentrei e toquei pra cima.
Já na terceira cordada… O Natan subiu, e era bem complicado o lance, eu não entendia como ele tinha feito, e a minha mochila não ajudou em nada a passar entre as duas rochas. Luciana cansada de tentar me explicar como fazer, e eu já chorando de raiva que eu não conseguia entender o que ela estava falando. Disse para eu entregar a mochila para ela e subir, foi o que eu fiz, já tinha demorado um pouco até tomar essa decisão, então eu fui, sem a mochila, o que facilitou e muito, mas a Luciana ficou com as duas mochilas, mas se uma mochila atrapalhava, imagine duas. O que me restava fazer era chegar na parada, e avisar o Natan. Ele deu um jeito, eu realmente não entendi o que ele fez, mas se ele entendeu, e sabia o que estava fazendo. O importante é que deu certo, ele ajudou a Luciana com as mochilas e ela subiu. Só nesse enrosco com as mochilas, tínhamos perdido bastante tempo. Todos na parada da Caverninha, pausa para lanche e fotos.

A cada segundo que passava eu ficava mais e mais nervosa, fascinada com tudo, mas com muito medo também, ansiosa, acho que eu nem sabia direito o que eu estava sentindo, só sabia que estava FELIZ! Feliz, por mais que eu estivesse chorando de medo, eu estava tendo uma experiência única. Feliz pelo Natan realmente me achar capaz de fazer aquilo. Enquanto eu nervosa falava muito, a Luciana só queria ficar quieta e se concentrar.
Eu e a Luciana sabíamos do nosso próximo desafio. Pelo que sabíamos, o mais difícil. A Variante Maria Cebola. Vimos o Natan saindo e eu já percebi que seria duro. Para nós já começou tenso na saída, quem disse que subir em uma árvore me daria tanto medo! Mas por incrível que pareça, eu já estava um pouco mais calma, estava me sentindo de alguma forma mais segura, eu nem sei explicar o por quê. Apesar de estar morrendo de medo, e não conseguir olhar para baixo, eu cheguei na parada com o Natan, apanhei o celular dele e comecei a tirar fotos da Luciana no lance, na foto eu rindo e ela no ‘perrengue’, é claro que na foto eu estaria sorrindo. Quem vê foto, não vê choro!
Passada a tensão, a próxima cordada seria uma das tão faladas chaminés. Na base as cordas embolaram bonito, teve todo o trabalho de desembolar, o que nos levou mais um tempo, que naquele momento estava sendo sagrado.
O Natan subiu, e para tentar acelerar um pouco o processo, ele pediu para que colocássemos as mochilas na corda, e ele as pendurou no grampo do final da chaminé. A chaminé até foi bem agilizada, e eu nem chorei! Eu comecei a escalar, e logo embaixo vinha a Luciana. Uma das dicas que deram, foi usar joelheiras, santas joelheiras, graças a ela, não fiquei com os joelhos doendo.
Os próximos lances e chaminés foram mais fáceis e agilizados, até porque queríamos chegar no cume antes de escurecer.
Na última chaminé, o Natan olhou e falou:” Olha… Essa chaminé é meio esquisita!”, já preparando nosso espírito, e realmente era, você escala praticamente deitado, com os pés para cima. E ele foi. E eu ainda fascinada, realmente não acreditava que estava lá e que já faltava tão pouco para o cume.
Enquanto eu estava no mundo da lua, o Natan já tinha chego na parada e falou que eu já podia ir, nisso a Luciana me pergunta: ” Você viu como o Natan fez?” e eu falei que não, ela me olhou com uma cara… Acho que ela pensou “ Meu Deus, porque ela não me escuta”. Sim, a Luciana já tinha falado para eu prestar mais atenção no que o Natan fazia, para poupar um pouco de tempo, e eu não me bater tanto enquanto estiver escalando.
Minha mãe, então, com toda a sua paciência, falou:” Tá, então vai ali e eu te falo como o Natan fez, para tentar te ajudar.” E lá fui eu, quando eu cheguei no lance em que ela iria me ajudar, e falou: “ Aí onde você está, agora você tem que virar”. E eu não entendi, como assim eu vou ter que virar? Então perguntei: “Virar em que sentido?”, e ela apenas falava “virar”, até que eu vi ela já sem paciência, de me explicar que era para eu “virar”, decidi começar a pensar sozinha. E passei a ‘virada’, que no caso era pôr o pé mais alto, porque a partir daquele ponto a chaminé iria meio deitada. Apesar de estranha, a chaminé era confortável.
Por fim o último obstáculo para chegar ao cume, subir uma escada. Parece simples, mas não, era uma escada estranha, fixada na pedra e embaixo dela, o vazio, e a cada degrau ela também balançava. O meu método para subir pela escada foi não olhar para baixo.
Chegamos ao cume, lá pelas 17h30m. Ainda estava de dia, consegui ver todas as montanhas em volta, Dedo de Nossa Senhora, Escalavrado , entre outras… Nos agasalhamos, tiramos fotos, fizemos o nosso lanche e logo a noite chegou. Um céu realmente lindo, estrelado.
Durante todo o tempo estando no cume eu não acreditava que eu tinha conseguido. Sentia uma felicidade imensa, de ter escalado, e ainda ver aquele céu, me deixou mais encantada do que já estava.
Como não queríamos chegar tão tarde no carro, não demorou muito até começarmos a descer.
Os rapéis foram rápidos, bem agilizados, sem muita enrolação. Nós estávamos cansados, Luciana com sono, pois nossa noite de sono não foi das melhores. Ao terminar os rapéis, onde começava os cabos de aço, nos desequipamos e terminamos de descer a trilha, sentido o carro.
A descida pela trilha foi muito tranquila, a tensão já não existia mais.
Chegamos na rodovia já eram 23h30m, Na beira da rodovia, agora, só pensávamos em uma coisa… Comida! Então, andamos o pequeno trecho da rodovia até o carro, e fomos achar um lugar para comer. O local escolhido foi uma pizzaria, nunca comi uma pizza tão gostosa, e garanto que não era só porque estávamos com fome.
E mesmo depois de passados alguns dias dessa aventura, eu ainda não acredito que estive lá. Agradeço ao Natan por me levar, me ensinar e acreditar que eu conseguiria.

E sobre meu questionamento! Por que subir montanhas? Minha conclusão foi que não existe um motivo específico. Para cada um terá uma resposta. E o meu foi só na Montanha que encontrei, é uma experiência diferente e única toda vez que conquisto um cume, escalo uma via e fazendo esse tipo de ‘loucura’. E com certeza eu não esquecerei dessa nunca.
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Luiza

Os cabos de aço

Trio de escalada

Trilha pesada até chegar na base da via

Analisando a linha da via com a Pequena Aprendiz de Roubadas

Escalavrado, Dedo de Nossa Senhora e Dedinhos

Face leste do Dedo de Deus

Cidade de Teresópolis

Bora escalar?

P2

P3, Caverninha antes da Variante Maria Cebola

Já bem alto

Variante Maria Cebola

Na seg da Luciana

Enquanto uns dão risadas depois de ter passado perrengue, outros ainda estão no perrengue.

Última chaminé antes do cume

Chegada no cume

Cume porraaaa!

Natan, Luciana e Luiza no cume do Dedo de Deus