Travessia Marins – Itaguaré
Feriado de Páscoa, um dia a mais além do final de semana já ajuda bastante para fazer alguma coisa diferente. Seria puxado e cansativo, mas já estava na programação fazer a travessia Marins – Itaguaré no estado de São Paulo quase divisa com Minas Gerais.
Não me recordo direito o ano que fiz essa travessia, mas com certeza deve passar de 15 anos. Tinha uma vaga lembrança de como era, fazer novamente essa caminhada estaria sendo quase que pela primeira vez.
Nove horas de estrada até a cidade de Piquete em São Paulo, uma aproximação difícil por estradas de terra até chegar no abrigo, tomou mais um bom tempo. As condições climáticas até aquele momento estavam horríveis, passamos a vigem toda a base de chuva, e no acesso até o abrigo onde inicia a caminhada, tivemos que empurrar o carro por diversas vezes.
Deixamos o carro estacionado no Refúgio Base dos Marins. O lugar tem hospedagem, alimentação, banheiros, transporte para buscar no final da travessia … enfim, uma boa assistência para quem vai fazer a travessia.
Começamos a caminhada por volta das 9 horas da manhã. O tempo nublado não permitia ter uma noção do que tínhamos ao redor. A subida do Morro do Careca segue por dentro da mata e, por alguns momentos com uma vegetação mais rasteira.
O ritmo da subida foi lento, estávamos bem carregados. Cada um estava autossuficiente, comida e barraca individual acabou pesando bastante as cargueiras. Aos poucos ganhávamos altura. A vegetação ficou mais rasteira e o ambiente certado de pedras acabou tomando conta da paisagem.
Perto da hora do almoço o tempo abriu. As nuvens se dissiparam e o sol tomou conta. Só aí deu para ter uma boa noção do lugar e o quanto já estávamos altos. Mesmo com o sol brilhando forte, cada paradinha para descanso o frio tomava conta.
Quando se aproximamos do Marins, tivemos a noção da quantidade de pessoas que estavam fazendo a travessia naquele feriado. Achamos melhor subir um pouco mais em direção ao cume, pois na parte mais baixa já tinha um número grande de barracas montadas. Tínhamos uma ideia que no cume e um pouco para baixo não teria lugar, então tentamos achar um lugar intermediário para acampar.
Antes do sol se pôr, já estávamos todos instalados e de barriga cheia, uma janta quente ajudou a espantar o frio que aumentava à medida que escurecia. À noite, a temperatura caiu muito mesmo, deixando para outro momento um passeio noturno.
Nem fudendo que eu ia levantar cedo. A última noite quase não dormi e, algumas horas caminhando de cargueira, acabou deixando todos cansados e prolongando ao máximo o sono dentro do saco de dormir. Levante bem tranquilo, fiz meu café e me preparei para atacar o cume que estava bem perto do acampamento.
Levamos uns 40 minutos caminhando. Encontramos muitos grupos guiados descendo para continuar a travessia e constatamos que não tinha condições de dormir mais próximo ao cume do que já estávamos. A quantidade de gente era algo que eu não estava acostumado em ver aqui pelas bandas do Paraná.
A vontade de ficar o dia todo no cume era grande, dia lindo e com um visual fantástico lá de cima. Mas depois de apreciar a vista e tirar algumas fotos tivemos que iniciar nossa descida e dar continuidade a travessia.
Já passava da 1 hora da tarde quando realmente colocamos a mochila nas costas e começamos a caminhar. A ideia de dormir no Itaguaré já tinha ido por água baixo, mas sem desespero e bem tranquilos seguimos em direção ao cume do Marinzinho, outro cume com visual muito legal de toda a travessia.
Enquanto caminhávamos em direção ao cume da Pedra Redonda comecei a me preocupar aonde seria nosso próximo acampamento. Já era sabido que tinha vários grupos a nossa frente e, muitos montanhistas que faziam a travessia no sentido contrário, comunicavam que não tinha mais clareira disponível da onde vieram. O sol já estava querendo se esconder, avisei o Bolívia e a Vera que tocaria mais rápido a frente, para tentar passar alguns grupos e reservar algum espaço para nossas barracas.
Por sorte um pouco após o cume da Pedra Redonda encontrei um espaço para duas barracas, era o suficiente para o trio Paranaense. A parte boa que nosso acampamento dessa noite ficava em uma crista de frente para o Itaguaré, tendo um visual mais privilegiado do que ficar entocado dentro do mato ou algum buraco.
Último dia de caminhada, mesmo sabendo que o dia seria bem longo, começamos a caminhar as 9 horas da manhã. Nem um dos três estava com pressa. Mais um dia de tempo bom em um lugar bonito e bem diferente do que estávamos acostumados, aproveitamos a caminhada da melhor forma possível.
A trilha por todo o percurso é bem nítida e de fácil orientação, talvez com neblina forte prejudique um pouco a percepção para onde seguir. A medida que se aproximava do Itaguaré, a inclinação ficava mais acentuada e com a mochila pesada, o ritmo diminuía bastante também.
Quando cruzamos com a trilha principal para o Itaguaré, vimos algumas cargueiras que foram deixadas para trás, ali também largamos as nossas e seguimos sem peso até o cume. Muito trepa pedra, vários lugares que deixava dúvida por onde seguir, mas com a orientação de um outro montanhista que conhecemos, chegamos ao cume sem problemas. O lugar muito bonito, pena que as nuvens já estavam começando a tomar conta da montanha e nosso alcance de visão ficou bem prejudicado. Acho que não passamos mais que 20 minutos no cume e já iniciamos a descida … e que descida. Não lembro ao certo quanto tempo passamos caminhando, mas descemos muito até chegar ao final da trilha onde um carro já estava a nossa espera para levar novamente ao Refugio Base Marins.
Uma travessia muito bonita. Nos quatro cumes que fizemos, cada um tinha sua particularidade no visual. Depois de ter percorrida toda a trilha, vimos bons lugares para acampamento além dos que a gente ficou. A água é um certo problema nessa travessia, pois quase não tem pontos de abastecimento e é preciso levar quase toda a água nas costas. Mas valeu o empenho de se largar de Curitiba até divisa com Minas Gerais para aproveitar essa travessia.
Bolívia como sempre parceiro e uma ótima companhia, Vera aproveitou cada momento, e seu entusiasmo era contagiante.
Bora marcar outra pernada boa como essa …