Via Tutankamon … mais dura do que eu esperava!

Via Tutankamon … mais dura do que eu esperava!

24 de junho de 2023 0 Por Natan

Quando estava escalando pela primeira vez a Fenda 2 na Esfinge, acabei errando a linha da via depois da primeira enfiada. Eu deveria ter saído mais à direita depois da primeira parada, mas acabei chegando em baixo da via Tutankamon. Passei alguns minutos apreciando o traçado da via. Rapidamente percebi que não era a Fenda 2, mas fiquei muito empolgado em fazer essa escalada em algum outro momento.

Esse momento veio muito tempo depois, e nesse último sábado entrei nessa via que a muito tempo tinha vontade de saber como era.

Meu amigo Rafael Ozelame, mais conhecido como Índio, aceitou o convite de imediato, mesmo não imaginava o quanto essa escalada era difícil, na verdade, nem eu pensei que era tão ardida assim.

Escalar no Marumbi sempre precisa dar uma boa pernada, principalmente para quem quer escalar na Esfinge, no mínimo 1 hora caminhando com equipamento nas costas em uma trilha íngreme. Já passava das 8:30 da manhã quando começamos a equipar e se preparar para escalar, e só no final do dia percebi que esse horário era tarde para estar ali ainda.

A primeira enfiada é a mesma para 3 vias. Fenda 1, Fenda 2 e a Tutankamon, via essa com 280 m 7c A0 (8ª A0) E2 M2. Os primeiros 50 metros verticais de escalada com muito mato é feito em A0, intercalando chapas novas com grampos antigos que ajudam muito. A segunda enfiada é uma escalaminhada na verdade, com 30 metros e uma orientação meio esquisita.

A coisa começa a ficar mais complicada a partir da P2. Era a minha vez de guiar e já passei veneno na largada. Uma aderência bem delicada foi apimentada com a parede suja, dando a impressão que a qualquer momento a sujeira ajudaria escorregar e sair ralando parede a baixo. Passando a aderência, a enfiada continua por um diedro diagonal a esquerda todo em móvel. Antes da colocação de cada peça tinha que fazer um trabalho de limpeza dentro da fenda. Depois de suar muito e acreditar que cada proteção que coloquei seguraria em caso de queda, consegui chegar na P3.

Enquanto dava segurança para o Índio subir, fiquei tentando decifrar como passar por baixo de um pequeno teto. O croqui mostrava um lance de 7b e outro logo em seguida em 7c. Eu já estava dando graças que não era a minha vez de guiar.

Índio depois de uma água e se encher de coragem entrou guiando. Não sei quanto tempo isso levou, mas meu parceiro suou muito para passar por baixo daquele teto. Tentou de várias formas possíveis. Até uma das peças que ele tinha colocado acabou sacando deixando o Pia mais branco do que já é. Depois de xingar muito e vários sustos, conseguiu livrar o lance de 7b, que na verdade 7b não tem nada, é certo que a graduação é maior que isso ou tinha algum outro recurso para passar. Já desgastado e não esperando uma escalada tão exigente, meu parceiro tentou algumas vezes o próximo lance, mas acabou voltando para a parada dando a chance de eu me ferrar um pouco.

Com a corda já passada por baixo do teto, subi sem muita dificuldade até a última chapa costurada. Realmente o próximo lance era difícil, sendo obrigatório livrar o lance. Na terceira tentativa, com a costura já na mão pronto para costurar, desiquilibrei e a queda foi inevitável. Vendo a complexidade do movimento pendurei minha mochila na última chapa fixa e tentei o lance novamente, agora sem nada para desequilibrar e trabalhando melhor os pés, consegui passar e continuar a via. Logo a frente parei na última chapa antes de chegar na parada, peguei o croqui para ter certeza que a próxima proteção já seria a P4, mas que eu não enxergava da onde estava. Alguns movimentos e eu estava em cima de uma rampa inclinada. Conseguia ver as próximas proteções fixas, mas não achava a parada dupla.

Passei a situação para o meu parceiro, logo ele me avisou que estava desgastado e já estava tarde para estarmos tão baixo ainda. Concordei com ele que o melhor era baixar. O problema era como. Eu já estava a uns 3 metros da última proteção, deveria ter uma parada dupla ali que eu não encontrei, meu parceiro não estava bem abaixo de mim, e sim na diagonal. Um rapel ali seria bem complexo. Eu tinha alguns problemas para resolver antes de chegar na P3 e não adiantava reclamar.

Um problema de cada vez para ser resolvido … e o primeiro era chegar na última proteção fixa. Avisei que tentaria desescalar, mas que em qualquer momento teria a queda. Uma queda tranquila e limpa resolveu meu primeiro problema. Geralmente escalo vias longas com cordas duplas, e isso facilita muito para sair de roubadas … e dessa vez não foi diferente. Rapelando com uma corda e o meu parceiro fazendo um backup com a outra, consegui chegar até ele mesmo em uma diagonal que ficava me jogando para o outro lado. Dali para baixo foi tranquilo e seguro até o chão.

Eu imaginava que essa via era forte, mas não pensei que seria tão forte assim. A linha dela é muito bonita, desafiadora, mas é bom entrar muito cedo e estar com sangue no olho e com uma boa estratégia.

Pelo jeito vai ficar para a próxima temporada.

Valeu pela parceria Índio, na próxima se preparamos melhor para tentar fazer.

P1

Segunda enfiada da via no trepa mato

Na P2, a linha da via Tutankamon

Visual durante a escalada.

Índio e Natan

Diedro fendado na terceira enfiada. Linda enfiada.