Derretendo nas paredes do Tucum.

Meu grande amigo Adriano Cruel está participando do Desafio Puro Montanhismo. Essa edição eu fiz somente para os sócios do Clube União Marumbinismo e Escalada – CUME, eu precisava fazer algumas mudanças nesse evento para melhorar alguns pontos que tive dificuldade na última vez que lancei o evento.

Ele precisava ganhar metragem (maior número de metros escalando em rocha). O desafio está no final e esse é o último final de semana antes do encerramento. O problema que ele só teria o domingo para escalar e a previsão do tempo estava apontando um calor superior aos 30 °C. Para não deixar o amigo na mão, aceitei o convite para escalar o que conseguíssemos no Tucum. Uma caminhada que leva umas 3 horas até a base das vias com equipamento nas costas, além da água que precisava para não ter problema de desidratação naquele calor que prometia ser muito forte.

Para amenizar um pouco a subida, resolvemos iniciar a caminhada as 4 horas da manhã, além de ter mais tempo para escalar. Com o material de escalada enxuto, comida e água, estávamos no horário combinado começando subir o Camapuã ainda a noite.

Conheço o Cruel já faz uns bons anos, sempre foi um cara forte, mas o lazarento nesses últimos tempos está mais forte do que nunca. Subimos o Camapuã carregados, mas parecia que não estávamos carregando quase nada. Sem paradas, em um ritmo forte e constante, um pouco mais que 2 horas de caminhada já estávamos no cume do Tucum.

O sol logo cedo mostrava que o dia prometia. Já sabia que seria assim, mas na hora que vc sente o calor te fritar, dá para repensar se foi uma boa ideia passar o dia inteiro exposto aquela temperatura.

Falei para o Cruel que seria parceiro dele para ganhar metragem, mas que eu gostaria de escalar vias que eu ainda não tinha feito. Um dos setores do Tucum que eu ainda não conhecia era o “Vista Para o PP”. Esse setor tem 3 vias que seria nova para mim. O acesso até a base dessas vias é meio esquisito, um vara mato seguindo as cordas fixas para chegar no platô um pouco mais alto da trilha.

Para nossa sorte, a base das vias tinha uma grande pedra que projetava sombra em cima de um buraco. Além de proteger do sol, ainda tinha um ar mais fresco dentro do buraco, perfeito para aquela situação que se encontrávamos.

O Setor Vista para o PP conta com 3 vias. A primeira que entramos foi a Cartão Postal 5° VIsup E2 93 m, via dividida em 3 enfiadas. A maioria das vias do Tucum predomina a técnica de aderência, algumas vezes mais forte, outras mais tranquilas, mas contando com o fator exposição e parede suja, deixa a escalada bem mais divertida e emocionante. Entramos nas outras duas também, O Retorno do Chupa Cabra 6° VIIa 84 metros e a via No Crux sem Bateria 6° VIsup E2 55 metros. Essa última via na minha opinião foi a mais ardida do setor, crux delicado com uma exposição que fico na dúvida se era um E2 mesmo.

Entre uma via e outra os dois escaladores geriátricos corriam para o buraco para se esconder do sol, tomar um pouco de água e descansar, mas nosso refúgio na sombra estava com as horas contadas. À medida que o tempo passava e o sol subia, aquela bela sombra diminuía cada vez mais. Quando finalizamos nossa última via desse setor, as mochilas e água já estavam expostas ao sol.

Acabou a mordomia, pegamos tudo e migramos para o setor das Meninas. O sol e o calor estavam no seu ápice no início da tarde e já não tinha mais aonde se esconder. Escolhemos 3 vias para fazer nesse setor, Lolô 5° Vsup E2 90 m, Barbara 5° V E1 60 m, Pico Pico 5° V E1 60 m, vias de aderência e rápidas de escalar, mas entre uma escalada e outra, tínhamos que descansar e se hidratar.

As horas passavam rapidamente e sabíamos que só daria para fazer mais uma via longa. Pelo desgaste de todas as escaldas e principalmente do sol escaldante, escolhemos a maior e mais fácil, Dez Anos Depois 4° IVsup E3 350 m.

As primeiras três enfiadas fizemos em simultâneo para ganhar tempo, somente na P3 resolvemos parar e dar segurança para o guia, a parede nesse ponto estava mais suja devido ao mato logo acima e não quisemos arriscar.

Já era final da tarde quando finalizamos a via e caminhamos até o cume para desequipar. O sol já dava sinais que em pouco tempo sumiria no horizonte. Tratamos de comer e guardar tudo para chegar no cume do Camapuã ainda de dia, e assim fizemos.

A descida foi tranquila e rápida. Contentes com um dia produtivo e bem cansativo na parede, finalizamos nosso objetivo alcançando mais de 700 metros de escalada. Faltando apenas alguns dias para finalizar o Desafio Puro Montanhismo, Cruel conseguiu subir bastante no rancking.

Agora basta saber como foi o final de semana dos amigos que também estavam participando da brincadeira.