
Big 500 – Tucum, mais de 500 metros de escalada …
Com a previsão indicando uma curta janela de bom tempo até sábado à noite, aquela vontade de aproveitar cada minuto na montanha bateu forte. Convidei a Luiza — parceira de tantas jornadas — para uma escalada com um diferencial: dormir no cume do Tucum e aproveitar o sábado inteiro nas paredes. Como sempre, ela topou sem pestanejar. Em poucos minutos, já estava organizando comida para duas noites na montanha, enquanto eu separava os equipamentos.
As mochilas estavam consideravelmente pesadas. Comida, roupas, saco de dormir, barraca, equipamentos de escalada… enfim, tudo o que precisávamos já estava socado nas cargueiras. Mas ainda restava um desafio: a água.
Começamos a caminhar por volta das 18h da sexta-feira. A fazenda da Bolinha estava tranquila, com apenas dois carros estacionados. O ritmo da caminhada era mais lento, exigindo atenção redobrada. Com tanto peso nas costas, qualquer escorregão pode se tornar uma lesão séria — a agilidade diminui e as articulações sofrem.
Já fazia um tempo que eu não sentia aquele frio cortante que a noite traz. O vento úmido do sereno fazia a sensação térmica despencar. Era um cenário digno de filme de terror: a neblina espessa ia e vinha com o vento em segundos, a noite escura envolvia tudo, e a floresta sussurrava em volta. Caminhávamos nesse clima, conversando e nem percebendo o tempo passar.
A estratégia da água era arriscada, mas não havia muita alternativa. Levamos 2 litros cada um para a caminhada e, depois de passar o colo entre o Camapuã e o Tucum, abasteceríamos para os dias seguintes — cerca de 10 litros no total. A neblina estava densa, a visibilidade não passava de 3 metros. Não foi fácil encontrar o rastro que leva à água, mas por sorte conseguimos encher todas as garrafas. Se não desse certo, o plano B era montar acampamento no cume e descer sentido Serro Verde com uma mochila só para buscar água.
Sem muita escapatória, levamos 3h20 para chegar ao cume, canados, mas com aquele sentimento bom de missão sendo cumprida.
O amanhecer foi simplesmente fantástico. Um mar de nuvens cobria tudo enquanto o sol nascia lentamente. De dentro da barraca, aquecido no saco de dormir, tomando um café… impossível colocar em palavras. Não há hotel cinco estrelas no mundo que ofereça um café da manhã como esse.
A manhã ainda era fria enquanto preparávamos o necessário para escalar. Optamos por uma estratégia minimalista: saímos já equipados, cada um com 1 litro de água, sem levar mochilas.
A trilha até o primeiro setor é rápida — cerca de 20 minutos até a base das cordas fixas, e mais um esforço nos levou às vias do setor Vista Para o PP.
Via Cartão Postal – 5° VIsup E2 D1 – 93m
Fiel ao estilo do Tucum: muita aderência, dividida em 3 enfiadas. Os primeiros 30 metros são bem diretos, embora o crux esteja ali, próximo da vegetação. A escalada segue um pouco à esquerda, beirando o mato. A segunda enfiada é mais tranquila. Da P2, logo se chega a um grande platô. Há uma parada à direita e outra à esquerda — ambas de outras vias. A Cartão Postal segue em frente, com um esticão de corda tranquilo até o final.
Usamos corda dupla, e da P2 um único rapel nos levou de volta ao chão.
No Crux Sem Bateria – 6° VIsup E2 D1 – 55m
Depois de um gole d’água e alguns metros de mato, entramos nessa via dividida em duas enfiadas. Considero essa mais exigente, tanto técnica quanto psicologicamente, já que os lances mais duros vêm antes da costura.
Na P1, chama a atenção o crânio de um animal pendurado na parede à esquerda, perto da via Chupa Cabra. A segunda enfiada mantém o padrão: lances de aderência bonitos, mas exigentes até o fim. A parada está escondida atrás de uma árvorezinha — como já recomendava o Tavinho: cuide dela!
Lolô – 5° VSup E2 D1 – 90m
Seguimos até o setor das meninas e a escolhida foi a Lolô. O início é mais técnico; talvez por estar um pouco sujo, achei mais delicado do que um VSup. Mas a via é bem intuitiva e sem surpresas. São duas enfiadas, com a primeira esticando até 60 metros. Aderência pura.
Nesse ponto, os pés já reclamavam e o corpo dava os primeiros sinais de desgaste. Conversamos e decidimos encerrar com chave de ouro: Arestona.
Arestona – 4° VIsup E3 D2 – 288m
Uma das melhores vias do Tucum, sem dúvida. Escalada que termina próxima ao cume, cheia de lances em aderência, e com a cereja do bolo nas últimas enfiadas: uma aresta linda e exposta, sempre com muito vento.
As três primeiras enfiadas são similares, sem mistérios. As duas seguintes têm um pouco mais de exposição e finalizam na crista. Um presente para qualquer escalador. Essa é daquelas que você tem que fazer.
Tem um vídeo mostrando a Arestona no canal do Puro Montanhismo, vale conferir.
Finalizamos o dia com 526 metros escalados. Os pés doíam, o corpo estava moído, mas muito contentes! Estar ali, naquele lugar fantástico, vale todo o esforço.
Na barraca, de roupa limpa, agasalhados e com café na mão, nos despedimos do dia com um pôr do sol inesquecível.
Não é só escalada, são momentos únicos!
VÍDEO COMPLETO SOBRE ESSE RELATO AQUI
Vídeo fantástico, da uma ideia perfeita das dificuldades e o visual magnífico não deixa nada a desejar… Parabéns.👍👏👏