Escalada no Setor Itapiroca
Mais de um ano se passou depois que abrimos o setor de escalada no Itapiroca. Nesse tempo fiquei sabendo de várias pessoas que se aventuraram por lá… As opiniões sobre o setor foram bem variadas, uns achavam tranquilo, outros já nem tanto.
O que percebi no entanto, foi que poucos chegaram no setor e escalaram as 4 vias, a maioria dos escaladores fazem 2 escaladas, 3 no máximo. Os mais habituados com parede escalam mais de 100 metros de vias, somatória das quatro linhas hoje existente. O cansaço físico da caminhada, que leva em média 3 horas com equipamentos nas costas deve ser o principal motivo para esse perfil.
Eu e a Michelle programamos de escalar no Itapiroca, convidamos vários amigos para essa trip, muitos não puderam estar juntos. O casal Gustavo e Maruza, e nossa velha amiga Carol estavam de mochilas prontas no domingo de manhã para caminhar e escalar conosco.
A subida rumo ao Itapiroca não é difícil tecnicamente, a trilha está mais aberta do que deveria. Devido as últimas chuvas, o caminho estava bem encharcado durante quase todo o percurso.
Maruza que estava estreando na região sofria um pouco com a caminhada, mas bem entusiasmada com a situação.
Levamos em torno de 3 horas para chegar na base das vias, tempo já esperado. O que eu não contava era que todas as vias estariam molhadas, umas mais, outras menos. As 2 únicas vias que talvez desse para fazer seria a “10 anos” e a “Sonífera”.
Carol pediu a ponta da corda para guiar a 10 anos, sofreu um pouco com a parede meio suja mas tocou até onde a parede estava seca, com um último lance meio molhado até alcançar a chapeleta e baixar. Michelle seguiu o mesmo caminho, guiando até onde a sapatilha dava aderência certa. Ao meu lado a Maruza incentivava o Gustavo que escalava na Sonífera, via que tem 2 lances bem divertidos para quem gosta de equilíbrio e agarras pequenas.
Guiei a via 10 anos até a última chapeleta antes da parada, dali para frente a parede estava completamente encharcada. Pedi para Michelle, que estava na minha segue, segurar um pouco a corda enquanto analisava esse último trecho da escalada. Lembro dela gritando lá de baixo, “não vai se machucar Natan, daqui alguns dias pegamos férias”.
Essa é uma das coisas que gosto muito no montanhismo e na escalada, o “direito ao risco”. Um dos principais motivos que a muitos anos faço parte da politica do montanhismo é isso, proteger e assegurar que nós, montanhistas, tenhamos o direito de nos arriscar, cada um no seu tempo e na sua experiência, mas que possamos escolher para onde ir, quando ir, como ir, e principalmente quando parar. Eu quero ter o livre arbítrio de saber quando devo parar e voltar e não um guia, um gerente de parque ou qualquer pessoa que seja, essa decisão cabe somente a mim!
O “mim” para alguns pode parecer meio Narcisista, mas o “mim” aqui quer dizer uma decisão minha, ou com o meu companheiro, somente com as pessoas que estão envolvidas naquele momento.
Enquanto analisava se continuaria a escalada ou não, avaliei os riscos ali envolvido caso tivesse uma queda. Depois de calcular cada movimento até chegar no final da via gritei para Michelle “escalando”, e segui cada lance que tinha visualizado antecipadamente.
Foi um alivio quando cheguei na parada e bati minha auto-segurança, ao mesmo tempo feliz por ter finalizado aquela escalada como tinha planejado. De vez em quando o planejado não sai do jeito que queríamos, mas dessa vez deu tudo certo.
Depois de todos escalarem e se divertirem nessa tarde de domingo, arrumamos tudo para irmos embora. Quando retornamos a trilha principal do Itapiroca, o Gustavo e a Maruza decidiram seguir para o cume, eu, Michelle e Carol continuamos nossa descida até o carro.
Mesmo com a previsão do tempo nada favorável conseguimos aproveitar bastante o dia, caminhada, escalada e boa companhia sempre é muito bom!!!!