Via Caroço – Marumbi
Como diz o ditado, “Brasileiro não desiste nunca” rsrs.
Se eu não me engano essa foi a quarta vez que eu estava tentando finalizar a Caroço.
Conquistada em 1987 levou anos para ser finalizada, foi também a primeira via na Esfinge fora do sistema de fendas, na época uma das mais longas escaladas do Marumbi.
Era umas 7:30 da manhã quando eu e o Cabral começamos nossa caminhada até a Esfinge, trilha seca, temperatura agradável, previsão de céu azul durante todo o dia, conhecimento prévio da via e boa parceria, condições melhores do que essa não tinha.
As 9:30 da manhã já equipado e começando a escalar. A primeira enfiada não tinha muito segredo, era seguir em alguns lances de mato, outros em A0, corda fixa até chegar na transversal com dois passos de artificial em rebite, mais alguns metros de escalada em livre até chegar na P1.
O Cabral escalou bem rápido a primeira enfiada, chegou já arrumando os equipamentos e colocando no rack da cadeirinha o “Badalo”, um Camalot n°6 que parecia mais um sino do que qualquer outra coisa.
A segunda enfiada começa com uma aderência graduada em Vsup, mais dois lances em artificial com rebite, logo em seguida um trepa mato delicado. Entre os pequenos platôs de mato tem uma fenda, um camalot 1 ou 2 vai bem caso não queira esticar muito. O crux da enfiada para alguns é o lance em offwidth, alguns metros dentro de uma fenda apertada com proteções fixas na base e depois na saída da fenda, era nesse lance que o Cabral usaria o “badalo” que carregava.
Enquanto eu dava segue para meu parceiro estava também acompanhando a movimentação de quatro escaladores que estavam bem mais acima conquistando a continuação da via Guardião da Floresta, via essa que cruza a Caroço na altura da P3.
Sem muita demora meu parceiro Cabral grita animado lá de cima “Tô na minha”, chega minha hora de encarar o offwidth e ralar um pouco os joelhos.
A terceira enfiada foi guiada pelo Cabral novamente, 45 metros na diagonal, metade na rocha e a outra metade no mato.
A quarta enfiada é o crux da via, foi nesse trecho que abandonei na última vez que tentei fazer a Caroço. Eu queria puxar a guiada e tentar de alguma forma passar o lance que eu tinha refugado.
Depois de arrumar e organizar todo o equipamento na minha cadeirinha com as costuras e várias peças comecei a escalar, concentrado em cada movimento fui ganhando altura e relembrando os movimentos errados que tinha feito da última vez. Até chegar na base do primeiro diedro a escalada fluiu sólida, bem diferente da última vez. Mais alguns metros eu estava na última proteção fixa dessa enfiada, nesse trecho eu tinha que fazer uma virada e entrar em oposição numa fendinha rasa, agora um pouco mais tranquilo consegui visualizar melhor os movimentos e achar um lugar perfeito para um camalot .4 . Com muito cuidado e delicadeza fiz a virada e fui ganhando altura. O crux da via é nessa parte, um VIsup com proteções em movél. Finalizando esse trecho me lembrei do beta que o Irivan me passou e reforçou, “no final da fenda não queira fazer a virada já de primeira, vai te dar vontade de fazer, mas suba mais um pouco até que a fenda esteja na altura do seus pés, ai vc cai para a esquerda e faz a virada. Se quiser virar antes vai se ferrar”. Seguindo os conselhos do Irivan subi o mais alto que consegui para ai sim fazer a virada e seguir escalando a esquerda onde já avistava a parada. Enfiada linda e bem divertida, agora um pouco mais perto de concluir a via.
A próxima guiada era do parceiro Cabral que mandou muito bem, saida a esquerda, um lance um pouco mais duro e uma rampa de aderência até a P5.
A última enfiada da Caroço precisa vencer um teto, dá pra fazer em A1 ou livrar o lance em VIIIa … achei melhor ir no artificial que é mais garantido rsrs
Sem muita complicação passei o teto até fazer a virada, um lance de VIsup de equilíbrio e já estava quase finalizando a via. Pelo croqui eu tinha mais uma chapa logo acima, passaria entre alguns matos e chegaria na última parada que estaria um pouco a minha direita. Logo que eu passei pelo crux da enfiada avistei uma chapa bem a minha direita, no primeiro momento pensei que poderia ser de outra via e toquei reto no mato achando que logo em cima encontraria outra proteção fixa.
Quando percebi que não tinha nenhuma chapa na direção que eu estava escalando e aquela chapa que eu tinha avistado a direita era a linha correta da via já era tarde demais, eu já havia esticado a corda consideravelmente e estava inviável desescalar por aquela parede suja. Com todo o cuidado do mundo fui testando platozinho por platozinho, se algumas daquelas touceiras soltasse da rocha com certeza eu iria me arrebentar na queda. Tentando não tremer muito e controlando a respiração para se acalmar fui ganhando altura e procurando aonde estaria a última parada. Depois de alguns metros acima localizei a parada bem a minha direita, teria que atravessar mais um língua de rocha suja para chegar em outros platozinhos e ai chegar no meu objetivo.
Com muito cuidado e sorte consegui chegar no platô da parada, eu suava frio e minha boca estava colando de tão seca que estava, não sei quanto tempo levei para escalar essa última enfiada, mas para mim pareceu uma eternidade.
As 4 horas da tarde eu e o Cabral estávamos começando a preparar nosso rapel e voltar para casa para tomar aquela cerveja gelada e comemorar o dia incrível que passamos escalando no Marumbi.
Via divertidíssima que valeu muito apena ter persistido em finalizar, essa vai para a minha lista das vias 5 estrelas, e pro meu amigo Cabral também já contou mais 280 metros para o Desafio Puro Montanhismo!
Valeu pela parceria Cabral, foi um tesão de escalada!!!