Acidente no Marumbi

Acidente no Marumbi

16 de novembro de 2019 0 Por Natan

Um dia meio despretensioso, eu só tinha intenção de chegar no cume do Olimpo, tomar um suco e aproveitar um pouco o visual lá de cima.

Eu e a Michelle colocamos na mochila somente o que precisava, lanterna, anoraque, celular, água e um pacotinho de suco, era tudo que precisava para nossa caminhada. Estávamos tão tranquilos e relaxados que começamos a caminhar já passava das 13 horas.

O dia estava meio abafado e bem úmido, a trilha em muitos pontos estava encharcada. O Marumbi estava movimentado, muitos grupos caminhando em todas as trilhas do conjunto e de tempos em tempos encontrava alguém descendo da trilha Frontal.

Eu sabia que na trilha do Olimpo tinha um grupo grande de Escoteiros, se não me engano estavam em mais de 40 pessoas. Durante a subida fui encontrando aos poucos esse grupo, alguns já voltando do cume, outros voltando mas sem conseguir atingir o objetivo da caminhada.

Na subida dos degraus do Olimpo percebi que alguns integrantes do grupo de escoteiros estavam todos com uma expressão tensa, alguns comentários “será que ela está bem?”, “precisamos chamar ajuda urgente”. Não precisa ter bola de cristal para saber que tinha dado alguma merda.

Chegando no vale estreito que leva ao cume vi uma aglomeração de pessoas, chegando mais perto já pude ver alguém deitado em um pequeno platô enrolada em alguns cobertores. A vítima era uma menina nova, com uns 16 anos no máximo que na descida pegou um caminho errado e acabou caindo alguns metros e batendo nas pedras. Era o mesmo lugar que eu já havia ajudando em um resgate alguns anos atrás. Não tinha como saber exatamente a sua situação, reclamava de muita dor no quadril e não estava completamente acordada.

Tinha várias pessoas do grupo em volta sem saber o que fazer. Entrei em contato com a base do Marumbi pelo telefone repassando a situação. Naquele momento já tinha um integrante do COSMO subindo para fazer o primeiro atendimento da vítima. Depois de comunicar a base tentei deixar tudo certo para quando o material de primeiros socorros chegasse. Pedi para o responsável do grupo ficar com mais uma pessoa apenas e o restante descesse para não tumultuar, pois não conseguiriam ajudar e poderiam causar mais problemas descendo a noite. Acomodei melhor a vítima no platô para sua segurança e conforto, tentei mantê-la acordada conversando com a menina.

Não demorou muito para o Pacheco chegar, todos os procedimentos de um primeiro atendimento foram executados. Um helicóptero da Polícia estava a caminho e não demorou muito para escutar o barulho da aeronave se aproximando. Eu e a Michelle descemos um pouco a trilha para sinalizar aonde o resgaste precisava descer. Depois de uma ação muito rápida já estávamos com mais policial para ajudar e com a maca na mão.

Com todo o cuidado colocamos a vítima na maca e iniciamos a descida até o ponto de extração do helicóptero. Estávamos em 5 pessoas para essa descida, função nada fácil devido a trilha íngreme e escorregadia.

Não tenho noção de quanto tempo levamos para baixar a maca até a primeira clareira que tinha, sei que foi meio rápido, mas tivemos uma infeliz surpresa quando chegamos no ponto desejado. As nuvens baixaram e, com aquela neblina não tinha como a aeronave chegar até o ponto que estávamos. Descer mais ainda não era viável, a trilha ficava mais íngreme ainda e não sabíamos ao certo até que altura a neblina cobria a montanha.

O piloto comunicou que o tempo piorava e precisava retornar, não tinha como acessar a vítima devido ao mal tempo. Ficamos ali um certo tempo em conversa com a Base em um grande dilema. Descer a maca pela trilha até a base da montanha ou passar a noite ali mesmo para o helicóptero fazer o resgate no dia seguinte. A descida da maca pela trilha tinha um grande problema, precisaria de mais gente qualificada para essa descida, a vítima não estava tão bem assim para passar a noite inteira sendo sacudida de um lado para outro mesmo contado cuidado da equipe. Passar a noite ali tinha o problema da precariedade do local e da situação, não sabia ao certo que horas o tempo ficaria bom no dia seguinte para fazer o resgate devido a previsão do tempo que na teoria era pra melhorar após o almoço.

Depois de muita conversa foi definido que o mais sensato e seguro era esperar ali mesmo para fazer a retirada da vítima via helicóptero mesmo.

Através de voluntários Marumbinistas chegou mais material para passar a noite e dar suporte a vítima e aos resgatistas.

Ali vi que eu e a Michelle não tínhamos mais como ajudar, a vítima estava em segurança dentro de todo o possível e em boas mãos. Subimos para fazer um ataque muito rápido e não tinha nada de comida ou mantimentos necessários para passar a noite ali. Podíamos descer e descansar para talvez de alguma forma ajudar no dia seguinte. Achamos melhor baixar.

No dia seguinte o tempo colaborou e a aeronave conseguiu fazer o resgate tanto da vítima quanto dos resgatistas que passaram a noite prestando atendimento.

Graças a Deus em um trabalho bem orquestrado por todos a vítima conseguiu chegar em segurança no hospital.

Dia bonito para caminhar

Michelle e Natan

Helicóptero do BPMOA

Pacheco com o material de primeiros socorros

Local onde a vitima caiu

Tentando deixar a menina o mais confortável possível

Primeiras fotos da vitima

Descida da maca

Descida

Descer uma maca nessas condições não é muito fácil

Melhor local para extração da maca

Esperando a aeronave

Essa foi uma experiência que ela nunca mais vai esquecer. Menina nova que tem uma vida inteira pela frente. Poder ajudar alguém na montanha a salvar a sua vida sempre é muito gratificante.