Via Fata Morgana – 5° Vsup D3 E3 – Salinas – RJ
Era o segundo dia de escalada em Salinas e, queira ou não, dá uma certa preguiça pensar em fazer força e passar medo de novo. Segundo a previsão do tempo, a partir das 3 horas da tarde poderia começar a chover e isso acabou gerando uma grande dúvida em qual via fazer.
A escalada seria em trio, eu, Juliano Pereira dos Santos e Adriano (Cruel) José Safiano.
Não acordamos tão cedo assim e a dúvida de qual escalada fazer foi resolvida de última hora enquanto arrumava os equipamentos.
Caminhamos em um ritmo acelerado para a base da via Fata Morgana no Capacete. Um pouco mais que 1 hora de caminhada para começar a escalar. O tempo não inspirava confiança, mas já que estávamos ali, tentamos agilizar ao máximo.
Juliano é o primeiro a guiar. Escala até a P1 da via CERJ, dali, segue em frente e passando na próxima parada dupla, pega a esquerda sem a necessidade de fazer uma parada, entrando realmente na linha da Fata Morgana e alcançando a P1 da via.
A próxima enfiada era minha. Uma enfiada inteira em móvel sem nenhuma referência certa em qual caminho seguir. Acho um tesão esse tipo de escalada, mas não dá para dizer que não fico meio apreensivo em errar a linha da via quando não se tem nenhuma proteção para ajudar na identificação do traçado. E dessa vez eu acho que dei uma errada boa!
Segui a esquerda da parede conforme o croqui. Tentando encontrar a linha mais óbvia na parede, mas acho que segui muito para esquerda e subi muito. Acabei ficando em uma situação um pouco complicada. A última peça que coloquei já estava longe, não achava lugar bom para proteger, as fendas abertas não davam possibilidade de uma boa proteção.
Meus parceiros lá embaixo não falavam nada, também apreensivos com a situação. Minha única alternativa era respirar e tentar achar a melhor solução para sair da roubada. Vi uma possível linha que me levasse a direita da onde estava, pois para a esquerda eu só ia me complicar mais ainda. Não conseguia ver direito o que tinha pela frente além da linha que escolhi, mas aí … a gente reza para ter qualquer lugar para proteger e continuar escalando. Mas uma boa esticada na corda, coração na boca e suando frio, consegui achar um lugar “bomba” para o Camalot .75. Agora já dava para respirar melhor, arriscar mais e tocar pra cima rsrsrs. Cheguei na P2 ensopado de suor. Montei a parada no único grampo que tinha e dei segurança para os outros dois. Foi um puta alívio chegar até ali, fazia muito tempo que não passava um cagaço grande como passei nessa enfiada.
O próximo a guiar era o Cruel, que também não foi de graça. Com poucos lugares para proteger e duas chapas fixas, o Cruel quase errou a linha da via e teve que dar uma boa esticada na corda em várias situações.
Pedi para guiar a próxima, pois no croqui era um estilo de escalada que eu gosto bastante. Aderência e uma fenda em meia lua muito legal de fazer, peças que ficaram bomba dava até gosto de arriscar um pouco mais. Sem me enrolar muito toquei o mais rápido possível até a P4 para chamar os companheiros. O tempo parecia que a qualquer momento poderia desabar água. Essa via seria um problema se tivéssemos que rapelar por causa da chuva.
A próxima enfiada tinha uma saída bem esquisita à esquerda como o croqui mostra. Logo depois o Cruel saiu do meu campo de visão, mas em pouco tempo escuto o gritou lá de cima que estava na parada e podíamos escalar.
A última enfiada é a mesma da CERJ, como o Juliano tinha feito essa via no dia anterior, puxou a ponta da corda para chegar o mais rápido possível no cume.
Às 3 horas da tarde estávamos comemorando a bela escalada que fizemos … linda via. Caminhamos até a linha do rapel e descemos. Já no chão, puxando a corda para ir embora antes da chuva chegar … na queda da corda, ela enroscou em uma fendinha. Tentamos de todas as formas desenroscar, mas infelizmente sem sucesso.
Antes que a chuva chegasse e molhasse a parede. Entrei na via Sérgio Jacob para conseguir ter acesso onde a corda enroscou. Chegando na terceira proteção consegui liberar a corda e fazer outro rapel.
Todos no chão em segurança e com todo o equipamento na mochila, agora era só caminhar até o Mascarim, lá tinha muita cerveja boa esperando matar a sede dessa galera.