20 horas de caminhada

20 horas de caminhada

28 de janeiro de 2012 3 Por Natan

Todo começo de ano eu faço uma lista de montanhas, escaladas e travessias que quero fazer durante o ano, vejo com os camaradas qual é a agenda de cada um para podermos conciliar os mesmos objetivos com as mesmas datas e pronto! Durante quase um ano tenho praticamente 80% dos meus finais de semana comprometidos.

Uma das coisas que eu queria fazer que também era a vontade de alguns, era a travessia Ciririca-Graciosa de ataque. Uma travessia clássica do Paraná. Tenho um certo carinho por essa travessia, pois foi a primeira roubada que fiz com a piazada do Nas Nuvens Montanhismo e a primeira vez que usava na prática cartas topográficas e bússola (na época eu não tinha grana para comprar um GPS), resultado desse aprendizado: uma travessia que era para durar três dias levou cinco dias, quando a repeti algum tempo depois, levei dois dias e na terceira repetição com meu amigo Alisson, levamos 17 horas.

Madrugada de sexta para sábado, peguei o Vinicius em casa as 3:30h, já estava passando na casa do Alisson para pegarmos a estrada quando, a três quadras da casa dele fomos abordados pela polícia. Pra quem já foi abordado pela PM a noite já sabe que não dá para brincar.
-“Todo mundo pra fora do carro com a mão na cabeça”, gritou o policial ao lado da viatura com a pistola apontada em nossa direção. O Alisson tentou argumentar que morava logo ali mas, não concluiu a frase e já escutou: -“cala a boca que não te perguntei nada”. O PM revistou cada um e logo perguntou: -“Onde vão escalar?”, eu respondi: -“na região do Pico Paraná”. Fiquei com medo de dizer que estávamos indo para o Ciririca e ele não saber que era uma montanha e levar isso como um desacato. O policial nos desejou boa viajem e foi embora.

Nos encontramos com o Otaviano em um posto na BR 116, tomamos café e fomos até a entrada da Graciosa onde eu deixaria o meu carro, para o retorno. Seguimos com o carro do Otaviano até a Fazenda da Bolinha, onde se inicia varias caminhadas daquela serra e também nossa travessia.

Começamos a subir as 5:15h da manhã de sábado, ainda estava escuro e frio dentro da mata, pela previsão do tempo, o dia estaria com céu azul e sem chuvas, mas não foi bem o que aconteceu.

Depois de uma caminhada tranqüila e descontraída, chegamos ao cume do Ciririca

Alisson, Otaviano e eu.

por volta das 11h, não apuramos muito o passo, pois, essa travessia é bem longa e não dá para se desgastar logo no começo da caminhada. No cume fizemos um lanche, tiramos algumas fotos e nos preparamos para a descida.

A descida do Ciririca rumo ao Agudo da Cotia é bem íngreme, como fazia três dias que chovia na serra, a trilha estava bem molhada e escorregadia.  Na descida de um trecho quase que de 90°, com o auxílio de uma corda velha que esta lá que já faz, sabe Deus quanto tempo, o Vinicius acabou escorregando e batendo o dedo direto na pedra, é provável que neste pequeno acidente o seu dedo indicador tenha quebrado, pois, minutos depois começou inchar e doer.

Seguimos pela trilha até um lugar chamado Colina Verde, onde pudemos avistar

Colina Verde, ao fundo a Garganta.

nosso próximo objetivo que era a Garganta do Arapongas. A partir desse trecho até a garganta, a caminhada é apenas pelos rios, entra-se em um vale pequeno, depois em outro um pouco maior e prossegue assim até chegarmos em frente da garganta, nesse ponto precisamos sair do rio  e seguir pela mata. Encontramos algumas fitas nossas que tínhamos colocado há algum tempo que nos ajudou bastante, pois o rastro da trilha já havia desaparecido.

Chegamos na garganta próximo das 17h e sabíamos que ainda faltava muito para chegar no Marco 22 da Graciosa. Instalamos uma caixinha de registro nesse ponto,

Alisson fixando a caixa de registro.

pois os poucos grupos que fazem essa travessia tem que passar nesse local para seguir em frente, e um caderno para registro sempre é bom. Avisamos o Xandão, que iria fazer o resgate, para nos encontrar às 22h na Graciosa, com a cerveja gelada.

A partir da Garganta são horas e horas dentro do Rio Mãe Catira.  É uma descida que parece que nunca vai acabar, tentamos descer o mais rápido possível para não pegar a noite dentro do rio, mas não teve jeito, anoiteceu e ainda não tínhamos nem chegado na cachoeira, que é

Descida do rio.

um ponto de referência que estamos próximos de sair da água para a trilha. Nessa descida não teve como escapar dos tombos no rio gelado e da ansiedade em sair daquele lugar, já fazia mais de doze horas que estávamos caminhando. O cansaço começou a tomar conta de todos.

Eram 21:30h quando conseguimos chegar na entrada da trilha que nos levaria até o Marco 22. Faltavam 2,5 Km, em linha reta, para chegarmos ao final da caminhada. Esse trecho da trilha é um sobe e desce incansável, no final de cada descida tem que passar por um córrego de água ou um rio, tínhamos sempre que sair para procurar a trilha, que estava fechada.

As 01:20h da manhã de domingo, chegamos ao Marco 22, totalizando 20 horas de caminhada para concluir a travessia de ataque. Foi muito desgastante mas, valeu a pena. O resgate do Nas Nuvens sempre é muito bem feito, o Xandão estava lá nos esperando com a cerveja gelada, Coca-Cola, esfiha de carne e, sempre com o mesmo sorriso estampado no rosto, mesmo depois de três horas de espera.
Alisson, Vinicius e Otaviano: foi um tesão de pernada! Xandão, muito obrigado pelo resgate de alto nível.

Final da travessia, já na Graciosa em quanto esperavamos o Xandão e o Otaviano que foram pegar o carro na Fazenda da Bolinha.